Brasília é a capital do país onde mais se usa a internet para automedicação e autodiagnóstico. A conclusão é de uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ). Os resultados – baseados em um questionário aplicado em 2016 – mostram que 66% dos entrevistados no Distrito Federal disseram usar a internet para detectar sintomas ou consultar indicações de medicamentos.
No ranking de capitais, Vitória e Salvador dividiram o segundo lugar, com 59%. Em terceiro, ficou Natal, com 55% dos entrevistados e em quarto João Pessoa, com 53%. Ao todo, foram entrevistadas 2.340 pessoas em 16 capitais.
Em decorrência destas pesquisas, Jéssica Alves quase morreu por causa de automedicação.
Os efeitos colaterais a assustaram, mas ela disse que dias depois do ocorrido, chegou a tomar o medicamento novamente por “achar” que ainda estava doente. Questionada se é hipocondríaca, a estudante negou.
Hipocondria – Para Rafael Calzada, psiquiatra e chefe da Unidade de Saúde Mental do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a automedicação pode provocar tanto a hipocondria como intoxicações, incluindo o desenvolvimento de efeitos colaterais do medicamento.
“A utilização do Google para estes fins pode agravar a hipocondria devido ao fácil acesso à informação e à desinformação, reforçando possíveis sintomas já presentes ou induzindo a pessoa a sentir novos sintomas”, alerta o médico.
Segundo Rafael Calzada, a hipocondria está entre os Transtornos Somatoformes, que são intimamente ligados aos Transtornos Ansiosos e consiste em reações corporais causados pela mente. Na prática, o paciente se encontra com dificuldades de separar os efeitos entre o seu corpo e a sua mente.
Porém, o psiquiatra disse ser favorável às pesquisas abertas e acessíveis via internet. De acordo com ele, o acesso possibilita ampliar as informações sobre a hipocondria e os excessos.
Pesquisas – Isabela Castelani, 20 anos, é estudante de psicologia, e conta que o Google pode ser um grande aliado em certas situações. Por causa da faculdade, ela precisa fazer pesquisas sobre as mais variadas doenças. “Ler sobre tantos sintomas e transtornos me faz ter a certeza de que quero ajudar as pessoas”, diz Isabela.
Para a futura psicóloga, as pesquisas funcionam como um alerta para a vida. “Claro que quando a gente lê as pesquisas e há uma identificação com os sintomas, nós ficamos preocupadas. Mas sempre que vejo as minhas preocupações ficando mais sérias, procuro a ajuda de um médico”, diz.
Diagnosticada como hipocondríaca, a estudante de direito Bruna Resende, de 23 anos, afirmou que vive em luta constante. “É uma batalha entre nós e a nossa mente”, reclama. Desde que começou a ter acesso à internet na pré-adolescência, a universitária passou a pesquisar os mais variados assuntos no Google, incluindo sobre dores que sentia ou manchas que apareciam em sua pele.
Bruna Resende conta que fazia visitas constantes ao hospital , sempre desconfiando de estar doente, mas que não acreditava no que os médicos diziam. Foi então que, durante mais uma de suas pesquisas, descobriu a hipocondria. Depois de muita resistência, encontrou na psicoterapia a resposta para algumass de suas perguntas. “Ainda estou em processo. Eu tento ao máximo não ceder ao Google, mas às vezes ele consegue ser o nosso pior inimigo”, lamenta Bruna.
*o nome foi trocado a pedido da entrevistada.