Encontro na Áustria
Brasília mostra ao mundo o ensino especial
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emO Programa Educação Precoce, da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), vai representar o Brasil em Viena, na Áustria, como uma das 24 práticas educacionais mais inovadoras do mundo. Voltado para bebês e crianças com deficiência, transtorno do espectro autista, altas habilidades, entre outros casos, o programa foi escolhido entre 469 projetos de mais de 100 países.
“A gente percebe que as crianças que passam por esse programa são crianças que chegam à educação infantil com desenvolvimento notoriamente melhor. O enfoque é na prevenção. Não é preciso esperar que a deficiência traga atraso no desenvolvimento. O programa trabalha antes, fazendo com que a criança tenha uma melhor qualidade de vida”, diz a diretora de Educação Inclusiva da Secretaria de Educação, Riane Vasconcelos.
Riane vai apresentar o programa na Conferência do Zero Project, um projeto da Fundação Essl, instituição austríaca focada em divulgar iniciativas voltadas para melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. A conferência será de 19 a 21 deste mês. “Sabemos que temos desafios e dificuldades, mas ainda assim, o trabalho merece especial destaque, como está recebendo. É uma honra muito grande representar esse programa e todos os profissionais que nele atuam”, diz.
O projeto foi selecionado como um dos finalistas da premiação conduzida pelo Zero Project. Os vencedores foram divulgados esta semana. Eles integram o relatório da organização, que já está disponível, online, em inglês. Independentemente da premiação final, todos os finalistas foram convidados para a conferência.
A Educação Precoce atende, atualmente, 3.327 bebês de 0 a 3 anos de idade em 19 escolas do DF. Essas crianças e suas famílias são atendidas por 400 educadores capacitados para oferecer um apoio pedagógico focado na aprendizagem, inclusão e no desenvolvimento. O atendimento é personalizado para cada bebê e é feito duas vezes por semana.
Atendimento personalizado
Os educadores recebem os bebês e as famílias e identificam, a partir das necessidades de cada um, quais atividades são indicadas para ajudar a melhorar o desenvolvimento. “Entramos na sala de aula com a família, mostramos o que a criança é capaz de fazer. Ensinamos também como os familiares podem fazer aquela brincadeira. Incentivamos a brincarem em casa”, diz a coordenadora do programa de educação precoce no Centro de Ensino Especial 02 de Brasília, Maria Renata Andrade.
Os resultados desses estímulos são perceptíveis nos anos seguintes, de acordo com Maria Renata. “Recebendo esse estímulo, essa atenção e esse cuidado e com os pais realizando essa interação com outros profissionais, temos visto crianças que recebem diagnóstico que não vão falar ou andar ou que não vão viver muito tempo viverem por mais tempo que o previsto pelos médicos. Têm crianças que passaram por nós e terminaram o ensino médio, que estão no ensino superior”, diz.
Mães, pais e responsáveis também são parte fundamental no programa. “Temos um leque variado de perfis de pais, temos pais adotivos, muito jovens, muito velhos. Mas todos têm uma característica principal: têm uma criança que não estavam esperando ter. Seja porque nasceram prematuras, seja porque têm alguma complicação no desenvolvimento. Fazemos um acolhimento para esses pais e mostramos que a criança precisa ser percebida nas suas potencialidades. A gente mostra para a família tudo que ela é capaz de fazer e incentivamos os pais a serem parceiros nesse processo”, diz a coordenadora.
Maria Renata explica que o programa é um apoio principalmente para a educação, para facilitar a adaptação e a trajetória escolar das crianças, melhorando também a qualidade de vida. Não substitui, portanto, as aulas regulares nas escolas nem os cuidados médicos e de outros profissionais da saúde.
A nutricionista Ronylma Lacerda, mãe de Saulo, 2 anos, diagnosticado com Síndrome de Down, resume o programa em apenas uma palavra: “fantástico”. “No primeiro ano, eu ficava dentro da sala de aula. Acompanhava todas as aulas. Sempre me ensinavam o que fazer em casa, a como brincar com ele, me davam instruções para fazer em casa”, conta.
Saulo tinha 2 meses quando começou a frequentar o Centro de Ensino Especial 02 de Brasília. Por falta de vaga, teve que aguardar outros 3 meses para conseguir se matricular na rede regular de ensino, mas antes mesmo disso, já frequentava o programa Educação Precoce. Foi lá, que ele descobriu a paixão pela natação.
“A parte pedagógica ajuda na concentração, no focar nas atividades. Ele tem uma tendência no brincar que é de jogar. Lá, trabalham a função do brincar, os encaixes, a parte cognitiva”, diz Ronylma, destacando que, na parte física, foi a natação que ganhou o coração de Saulo. “Ele gosta muito das atividades aquáticas e isso ajuda no equilíbrio.”
Próximos passos
O programa conta hoje, de acordo com Riane, com um fila de espera de cerca de 150 crianças. A intenção é ampliar o atendimento para que todos possam ser incluídos. Duas unidades de atendimento passarão a funcionar em 2020, uma em Ceilândia e outra em Samambaia. Uma terceira unidade está nos planos, mas ainda em discussão.
A intenção é também ampliar o orçamento, criando uma rubrica própria para o Educação Precoce. Atualmente, o programa conta com repasses de recursos que são destinados às escolas onde funciona, além de contribuições voluntárias dos pais e responsáveis. Os recursos são necessários, por exemplo, para a aquisição de brinquedos e outros materiais para o atendimento adequado das crianças.
As inscrições para o Programa Educação Precoce podem ser realizadas em qualquer dia do ano, pessoalmente, pelos responsáveis dos bebês, nas escolas ou Coordenações Regionais de Ensino. Neste ano, de acordo com a Secretaria de Educação do DF, a rede pretende informatizar as inscrições.