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GEB em ação

Brasília teve seu massacre, mas não em presídio

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José Escarlate

Uma das piores cantinas que havia nos canteiros de obras de Brasília era a da Construtora Pacheco Fernandes Dantas, que abrigava 1.300 operários. Ficava situada na área da atual Vila Planalto, no início de 1959. Trabalhava-se — como nos demais canteiros de obra de Brasília — 24 horas por dia, em turnos alongados por horas-extras e o mínimo de folgas, na construção do edifício do Congresso Nacional, chamado pelos operários de “28”, pelo número de andares.

No Carnaval de 1959, para evitar a dispersão dos operários por conta da folia de Momo, o comando resolveu cortar a água dos operários. Sem tomar banho, sujos da poeira e do entulho do serviço, eles certamente não burlariam a vigilância para buscar diversão na Cidade Livre. Tudo isso, além da retenção do pagamento semanal, que deveria ter ocorrido no sábado (7 de fevereiro).

A situação por lá era das mais tensas, sendo agravada ainda pela refeição estragada, no domingo de Carnaval (8 de fevereiro). Foi o estopim. A discussão entre operários e o pessoal da cantina, resultou em um monumental quebra-quebra no bandejão. Policiais da GEB (Guarda Especial de Brasília), gente despreparada, alguns vindos do submundo do crime, foram chamados e começaram a espancar os causadores da confusão. Os outros operários, que não estavam metidos na confusão, que eram centenas, entraram no rolo tentando impedir.

Os policiais da GEB se retiraram, amargando uma humilhação a que não estavam acostumados. Parecia que a coisa estava serenada. Amargurados, engoliram a humilhação, se organizaram e decidiram voltar ao acampamento tarde da noite, em maior número e portando armamento reforçado. Não houve qualquer diálogo ou entrevero. Já desceram dos caminhões atirando contra centenas de operários que se encontravam à vista. Em seguida, invadiram os alojamentos e dispararam contra os que se encontravam nos beliches.

A partir daí, as luzes foram apagadas, e as versões divergem. Há quem acredite que muita coisa do que se disse era folclore. Mas a matança ocorreu. As pessoas que viviam em Brasília, na época, falavam em metralhadoras, e em caminhões-caçamba transportando corpos para serem enterrados nas proximidades de Planaltina, ou jogados na lagoa Feia. Esses corpos jamais foram encontrados, e o número de vítimas nunca pôde ser comprovado.

PV

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