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Por ora, só deserto

Brasiliense reza por chuva para respirar ar puro

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva - Foto de Arquivo

As históricas estiagens em Brasília são eventos anuais que trazem junto um cenário desafiador para os habitantes da capital da República. Os dias ensolarados e o céu sem nuvens podem parecer um paraíso em um primeiro momento, mas, para quem vive a dura realidade da seca, a história é bem diferente.

Brasília, no auge da estiagem, torna-se quase um “inferno” para quem se arrisca a sair de casa sem proteção adequada. A pele racha, os lábios ficam secos, e o nariz sangra com a brutalidade do ar seco. O Cerrado, que costuma ser exuberante durante a estação das chuvas, transforma-se em um vasto campo de vegetação ressecada, um terreno propício para queimadas e incêndios, que consomem a já escassa umidade do ar.

Nesse cenário, o brasiliense passa a rezar pela chegada da chuva. A falta de água nos reservatórios, o calor escaldante e a poeira que se acumula em todas as superfícies são fatores que intensificam esse desejo. A promessa da água que cai do céu torna-se quase uma oração diária, uma súplica coletiva. O som do trovão à distância, que começa ser ouvido em meados de outubro, desperta esperança, como se anunciasse o fim de uma longa penitência.

A chuva, quando finalmente chegar, não trará apenas alívio físico, mas também uma renovação simbólica. As primeiras gotas que tocam o solo seco são recebidas com gratidão. A terra absorve a água como quem mata a sede depois de um longo jejum. As plantas, antes murchas, começam a florescer novamente, e o verde retorna ao Cerrado.

A cidade, até então sufocada pelo calor, respira aliviada. Os brasilienses voltam a sair de suas casas com um novo ânimo. A chuva, que em outros lugares pode ser vista como um incômodo, é recebida em Brasília como uma bênção.

O ciclo de secas e chuvas faz parte da vida na capital, mas, a cada ano, o peso do período sem chuva parece mais difícil de suportar. Para quem vive nesse ritmo, a chegada das águas não é apenas uma questão de alívio físico, mas um evento espiritual, uma lembrança de que, no fim, a natureza sempre encontra um jeito de equilibrar suas forças.

Até lá, resta esperar e rezar para que o céu, de tão azul, finalmente se transforme em cinza carregado de promessas.

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