– Tirar da noite para o dia de um banco, que administra ativos totais superiores a 12 bilhões de reais, um ativo anual circulante de R$ 16 bilhões, é pancada não só para um banco estatal, mas para qualquer um, mesmo privado. Não há empresa que subsista a tamanho abalo.
Foi assim, curto e grosso, que Antônio Eustáquio, diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília, reagiu a projeto esboçado pelo Palácio do Buriti, para a venda da folha salarial dos servidores do governo do Distrito Federal. A medida é vista como alternativa para colocar dinheiro nos combalidos cofres públicos.
O momento, segundo o dirigente sindical – ele mesmo servidor de carreira da instituição – é de investir no banco, buscando novos horizontes.
– O BRB é viável e pode pensar em expansão. Pode mesmo transformar-se em banco regional do Centro Oeste, através de uma articulação com os governos do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e de Goiás, disse Eustáquio em entrevista a Notibras.
Esse arranjo pode ser feito de maneira que aqueles três estados possam participar ao lado do Governo de Brasília, da gestão e das políticas do banco. Ações dessa natureza, afirma Eustáquio, ampliariam o universo do BRB para além de um banco de fomento, uma vez que, enfatiza, no Centro Oeste há mercado para manter um grande banco de desenvolvimento.
Na avaliação de Antônio Eustáquio, a partir das mudanças, o BRB atuaria como agente de fundos federais e de desenvolvimento da região. Além disso, justifica, o banco utilizaria esse funding para alavancar sua atuação no varejo e no agronegócio, verdadeiros filões da economia regional.
Tolice, observa Eustáquio, seria brigar em uma concorrência em que a escala é desmesurada. Sendo assim, caberia ao BRB utilizar sua potencialidade no conhecimento e nas particularidades do Distrito Federal, para se consolidar “como o banco do povo, explorando um diferencial que tecnologia nenhuma substitui, e já foi comprovada por pesquisas qualitativas, inclusive feitas pelo Sindicato dos Bancários de Brasília: seu atendimento humanizado”.
A venda da carteira dos contracheques do BRB, suscitada por Leany Ramos, secretária de Planejamento, em estudos supostamente a cargo de Paulo Vogel, secretário de Administração de Brasília, foi interpretada pelo mercado financeiro como quem vê o BRB como ‘uma anomalia’ no sistema bancário brasileiro.
– Essa é uma visão pobre, estreita, ataca Antônio Eustáquio. “É patente que os governos que se sucederam ao regime militar, em especial os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, muito contribuíram para gerar esse sistema que congrega verdadeiro oligopólio, com gigantes que duplicam de tamanho em até três anos. Isso sim é uma anomalia no mundo”, afirma.
Na opinião do dirigente sindical, em que pese essa concentração, o Brasil oferece espaço para bancos de nicho, especializados, e é este espaço que cabe ao BRB.
Ainda de acordo com o entendimento de Antônio Eustáquio, é falsa a ideia de que os bancos estaduais foram “à lona” pela venda das folhas de pagamento dos respectivos estados. Ele sublinha que houve usos políticos dessas instituições pelos governos, especialmente em operações de Antecipações de Receitas Orçamentárias (ARO). “Como também houve, e de forma contundente, uma política deliberada de FHC e seu Banco Central, de aniquilar essas instituições com arranjos contábeis que apontavam para a inviabilidade dos bancos estatais, e jamais para o mercado bancário privado”.
No caso específico do BRB, Eustáquio lembra que o banco foi criado para ser o agente financeiro do governo do Distrito Federal, e ao longo dos anos estacionou nessa passividade, sem nenhuma iniciativa para deixar essa dependência.
O certo, porém, admite, é que o após o plano real, o BRB teve de se reinventar, e hoje já se expandiu para além de uma “pseudo facilidade”, onde a clientela seria representada majoritariamente pelos servidores públicos. “Isso não existe. Ter a conta dos funcionários públicos é importante, mas o industrial, o agricultor, o profissional liberal, os autônomos, estão todos no Banco de Brasília”, acrescenta.
Por fim, Eustáquio enfatiza que com a portabilidade bancária, qualquer servidor que recebe seu pagamento no BRB pode solicitar a migração dos recursos para outro banco. “Isso ocorreu, embora em pequena escala, e não significou um abalo ao banco, porque o BRB tem ativos que agradam aos clientes servidores, em especial o seu atendimento diferenciado, que contribui sobremaneira para a manutenção de suas contas”.
Felipe Meirelles e Ricardo Coimbra