No painel Petrobrás e a guerra híbrida, do seminário Petrobrás: legados trabalhistas, promovido pelo PDT, o ex-chanceler e ministro da Defesa nos governos Lula e Dilma, respectivamente, admitiu que os governos petistas subestimaram a guerra híbrida que se desencadearia contra o Brasil após a “aproximação independente” com os BRICS e a descoberta do pré-sal.
Amorim lembrou que antes disso as relações entre Brasil e EUA eram “razoáveis”, mesmo após a criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas, tida como “bolivariana”), por exemplo. Mas a adesão aos Brics não foi tolerada sobretudo devido à presença dos rivais Rússia e China.
“Os EUA precisam de rivais para justificar os gastos do Pentágono. Hoje a própria capacidade de criar vacinas e outras inovações está ligada a pesquisas militares”, comentou, acrescentando que, com o pré-sal, a América Latina ganhou soberania em petróleo e deixou de vista como quintal dos vizinhos do norte.
O ex-ministro da Defesa, que atuou no governo de Itamar Franco, revelou que o ex-presidente, mesmo sendo nacionalista, afirmou claramente a impossibilidade de convidar nomes que contrariassem o poder oculto dos neoliberais. Já Lula, segundo o ex-chanceler, “parou a marcha das privatizações, mas não pôde reestatizar o que tinha sido privatizado”.
“Fomos ingênuos. No fundo, tentamos salvar o capitalismo, dando a ele uma face mais humana. Não pensávamos em golpe. Mas ele veio, mesmo não havendo política anti-americana”, resumiu, ponderando sobre o papel da mídia no Brasil: “É mais reacionária do que os empresários brasileiros, pois faz a intermediação com interesses estrangeiros”.
Defendendo a união política das correntes progressistas, Amorim lembrou Darcy Ribeiro e Paulo Freire ao avaliar que através da educação e da cultura será possível “formar consciências para resistir às guerras híbridas.”
Teoria do poder
Já o presidente da AEPET, Pedro Pinho, destacou que desde a Antiguidade já se travavam guerras híbridas. Pinho defendeu que as instituições ligadas ao poder se aprofundem no estudo dessas relações. “Erramos ao não estudar a teoria do poder. Há um poder distribuidor de renda e um poder concentrador que nos domina desde os anos 1980, com o Consenso de Washington”, definiu. O presidente da AEPET pondera que a realidade está impondo mudanças nas premissas básicas dos chamados neoliberais.
“Houve recentemente uma mudança na estrutura mundial de poder. A abertura financeira não foi boa para a própria banca, devido à entrada dos capitais marginais (drogas, armas, etc), principalmente a partir dos anos 2000. São gestores anônimos de ativos, que atuam a partir dos paraísos fiscais. Para agirem legalmente, influem na mudança das leis, como ocorreu no Brasil, que autorizou a absurda remuneração do caixa dos bancos, inclusive com votos de políticos da esquerda”.
Segundo Pinho, o poder dos capitais marginais se origina no fato de terem total liquidez (cash), enquanto a tradicional “banca” concentra seu capital nas dívidas, que possuem prazo. “Temos que compreender o que estamos combatendo. O poder não se revela. De tal maneira se oculta que não permite sequer ser estudado.”
Mas que poder representa a Petrobrás para ser combatida por um outro poder? Na visão do presidente da AEPET, a estatal detém os poderes da soberania e do desenvolvimento nacional. Domina a tecnologia e é fornecedora de energia, algo fundamental, um forte indicador de desenvolvimento.
“A luta da Petrobrás é pela independência do Brasil e emancipação do povo, que precisa multiplicar por cinco seu consumo de energia para chegar a padrões europeus. Por isso é atacada”, resumiu.
Coação e perdas
Por sua vez, o jornalista Beto Almeida lembrou que, já em 1906, Getúlio Vargas definiu, ao discursar para o recém eleito presidente Afonso Penna, o conceito de “coação da história”, que o acompanhou
em toda sua vida, influindo em suas decisões como estadista.
“Sempre houve guerrra híbrida contra o Brasil, para que nunca se industrializasse. A coação da história é a sina dos países obrigados a exportar matérias-primas e importar manufaturados. O conceito de perdas internacionais também define isso”, afirmou. Segundo Almeida, Getúlio colocou em prática a ideologia da industrialização e providenciou para que o país tomassse conta de seus recursos naturais.
“Quando Getúlio voltou nos braços do povo e procurou, já em 1953, consolidar a Petrobrás, a guerra híbrida se deu com a manipulação da mídia, na campanha do “mar de lama”. Em 1 de agosto de 1954, a Petrobrás passa a ser uma empresa concreta. Operadora de tudo ligado ao petróleo. Isso agravou a campanha do mar de lama, como o próprio presidente dos EUA, (Franklin) Roosevelt havia alertado”, comentou.
A esses fatos, seguiram-se, segundo o jornalista, o Atentado da Rua Toneleiros e a criação da chamada República do Galeão, que revelou a oposição da Aeronáutica contra Getúlio e culminou com o suicídio do presidente. “O sangue derramado de Getúlio adiou o golpe militar para 1964”.
Com relação à atualidade das guerras híbridas, Almeida classifica a operação Lava Jato como uma guerra geopolítica, com manipulações sociais, políticas e midiáticas que levaram ao golpe de 2016. “As operações destinavam-se a impedir a continuidade da Petrobrás como operadora única do pré-sal e a nacionalização dos campos de petróleo. A Petrobrás hoje é um banco de fomento para as empresas internacionais. Ela pesquisa, informa e depois entrega.”
Para enfrentar esta realidade, o jornalista defende o incremento de uma mídia que se oponha à que está comprometida com interesses internacionais. “Educação política é algo que não cai do céu. No golpe de 2016, faltaram instrumentos para fazer a defesa da pátria. Neste mundo moderno, sem ter mídia soberana, democrática, inteligente fica impossível ser soberano”, finalizou, lamentando que Getúlio Vargas tenha sido rotulado como populista e ditador, inclusive por amplos setores da esquerda, embora tenha lutado contra a coerção da história.