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Briga na cozinha de barco acaba em fuga no metrô

Não sei se você sabe, mas o meu grande amigo Almeidinha já passou um tempo em Londres, onde fazia parte da tripulação de um barco de turismo no famoso rio Tâmisa. Ele ajudava na cozinha e servia os clientes à bordo. Corria para cá, corria para lá, atendia a todos os pedidos com até certa gentiliza, levando-se em conta o seu temperamento nem sempre tão polido. Mas como estava na Inglaterra, isso poderia até passar despercebido, pois todos poderiam supor que aquele era o jeito da população local.

Mas eis que um dia o Almeidinha, praticamente um inglês na pontualidade, chegou atrasado. O encarregado disse para ele e outro funcionário, um enorme senegalês que também havia chegado mais tarde, lavarem a louça da viagem anterior. O meu amigo, que não é de muita conversa, foi logo pegando uma esponja e o sabão e, em seguida, começou a cumprir a tarefa recebida. Já o seu companheiro de labuta se sentou na bancada logo atrás e começou a descascar uma banana calmamente. O Almeidinha olhou aquilo com certa raiva, mesmo porque os dois não se bicavam há tempos.

Quase dez minutos se passaram, e lá estava o meu amigo esfregando uma enorme panela cheia de restos de comida. Ele deu uma olhada para trás e viu o senegalês comendo outra fruta, desta vez uma maçã. O Almeidinha, ainda com a panela e a esponja nas mãos, perguntou: “Ei, se você for ficar aí me olhando trabalhar, melhor ir lá pra fora”. Nisso, o senegalês, que tinha quase dois metros de altura e um corpo digno de um fisiculturista, respondeu: “Estou na minha hora de folga”. Pra quê?

O Almeidinha, que é até atarracado, mas não é maior que eu, que não sou alto, jogou a enorme panela na direção do senegalês. Este ainda conseguiu se desviar, mas uma comédia pastelão se instalou em plena cozinha, pois o Almeidinha, na ânsia de pular no pescoço do colega de trabalho, escorregou e caiu de bunda no chão. E, antes que uma tragédia maior acontecesse naquele ambiente cheio de facas, eis que o encarregado apareceu e pôs fim àquela contenda.

O chefe perguntou que bagunça era aquela, e o meu amigo explicou o ocorrido, já se pondo à disposição para ser despedido. Todavia, para surpresa do Almeidinha, o senegalês é que foi mandado embora. Tudo parecia resolvido, até que o enorme africano olhou para o meu amigo e, com o indicador de uma das mãos, passou no próprio pescoço e disse: “Eu vou te matar!” Logicamente, o Almeidinha se tremeu todo de medo, pois percebeu que o seu temperamento de pinscher miniatura havia arrumado confusão justamente com o pit bull do local. Aliás, um pit bull com o tamanho de um fila.

Seja como for, o senegalês, que havia sido despedido, foi embora mais cedo, o que foi até um alívio para o Almeidinha. No entanto, assim que chegou a sua hora de também ir para o lar, doce lar, o meu amigo percebeu que, do outro lado da linha do metrô que ele pegava, lá estava aquela montanha de músculos esperando por ele.

O meu amigo, antes do senegalês dar a volta na estação do metrô, entrou em uma linha, que nem era a sua, simplesmente para não tomar uma surra daquelas. E, ao entrar no vagão, para a sua sorte, encontrou um local vazio. Infelizmente, logo percebeu, pela umidade do fundilho da sua calça, que precisava aprender a controlar seu temperamento impetuoso.

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