Frank Underwood é um ambicioso político que chegou a um alto cargo público depois de articular meticulosamente com língua viperina sua ascensão na carreira. Fez de tudo. Pagou propina, fez lobby, traiu a confiança de seus próximos até alcançar seu objetivo. A narrativa descrita nada mais é do que uma série americana – House of Cards -, mas confunde-se com a nossa habitual política.
Em terras tupiniquins, mas não no Congresso Nacional, está sendo construído um enredo idêntico à história de Underwood. Seu protagonista atende pelo nome de José Tadeu, presidente licenciado do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).
Com um crescimento social e econômico incompatível com o salário recebido desde que começou a trabalhar no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), José Tadeu levantou suspeitas. O Ministério Público entrou no caso.
Agora ele quer a reeleição. A todo custo, diga-se de passagem. Para tanto, fez lobby no Conselho Eleitoral do Confea para impugnar as chapas que concorreriam contra ele. Sem adversários, teria facilidade de se perpetuar no poder. A prática resultaria no que popularmente se diz de vitória por W.O.
Não são poucas as justificativas para expurgar José Tadeu do comando do Confea. Ele tem nas costas mais de trinta processos. Precisa responder a todos, um por um. Terá dificuldades, no entanto. Há processos que já transitaram em julgado, com condenação.
Já existe determinação judicial de ressarcimento ao erário de quantias que somam alguns milhões de reais. Sem contar nos processos em andamento que somados resultam em outros quarenta milhões.
Licenciado, José Tadeu tenta a reeleição. Algumas chapas – as que ele tentou passar uma rasteira – propuseram-se colocar fim a um ciclo vicioso e vergonhoso para o Confea. Uma delas é capitaneada pelo engenheiro civil Henrique Luduvice, com 33 anos de carreira e graduado pela Universidade de Brasília. Luduvice pode ser considerado hoje como um dos adversários mais fortes de José Tadeu, que detém a máquina do Conselho Federal. Isso porque ele já presidiu o Crea-DF, o Mutua e o próprio Confea.
Por si só, Luduvice talvez não tivesse se candidatado. Mas o desejo partiu dos próprios profissionais. “Um conjunto de colegas e entidades me chamou para participar desse processo eleitoral em razão das circunstâncias que vivencia hoje a nossa categoria”, explica o engenheiro a Notibras, ressaltando as condições jurídicas do atual presidente.
Com experiência de gestão na instituição e no próprio Executivo – ele foi secretário de Transportes e diretor do DER-DF -, Luduvice propõe uma solução para os desmandos da atual direção do Confea. “Será preciso um choque de ética na presidência”, sentencia.
E vai mais a fundo em sua declaração. “É um comportamento de um autêntico ‘ficha suja’, o que a área de engenharia e a própria sociedade brasileira já demonstraram que rejeitam”, diz. Na avaliação de Luduvice, o quadro é tão complexo que o Ministério Público deve acompanhar de perto as eleições, marcadas para 19 de novembro.
A postura de José Tadeu, já denunciada à justiça, agride princípios constitucionais da legalidade e da moralidade, observa Luduvice. “Em alguns países, um gestor submetido a tantos processos por improbidade administrativa, com decisões liminares e indisposição de bens se sentiria profundamente envergonhado e renunciaria para que a instituição não sofresse qualquer tipo de desmoralização pública”, dispara.
Entre os pecados cometidos na gestão de José Tadeu, Luduvice descreve a omissão do Confea em relação a grandes temas nacionais. “A instituição não se manifesta em defesa da Petrobras, da Eletrobras e das empresas de áreas estratégicas. A punição para eventuais desmandos não pode prejudicar essas empresas que viabilizam o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil com soberania”, observa.
Para sepultar de vez a reeleição de José Tadeu, o engenheiro Luduvice hasteia bandeiras como o apoio irrestrito do Colégio de Entidades Nacionais, os Creas e as coordenações de câmaras especializadas. Além disso, ele defende ações de internacionalização do Confea, para que haja troca de experiência entre a engenharia e a agronomia do Brasil com países mais avançados.
Entre os engenheiros, há quem sustente que existe um iceberg poluído a deriva, que pode arrastar o edifício-sede do Confea, em Brasília, para o fundo do poço. A única saída, será implodir a reeleição de José Tadeu.
Elton Santos