A sucessão em Brasília pegou fogo nesta segunda, 23. O vice-governador Renato Santana, rompido com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), fez um discurso duro na sessão especial da Câmara dos Deputados que marcou os 58 anos de fundação da cidade. Renato, de berço humilde, acusou Rodrigo, de família abastada, de discriminá-lo por ser negro.
Depois, em conversa com Notibras, Renato Santana desabafou: “Eu cheiro poeira nas minhas andanças para identificar problemas e buscar soluções para o povo do Distrito Federal. Já ele (o governador) parece ser acionista da Nugget, porque só anda com os sapatos brilhando”.
Aplaudido por um plenário lotado, Renato, do PSD de Rogério Rosso, apontou sua metralhadora giratória para o principal ocupante do Palácio do Buriti. “É hora de dizer o motivo da perseguição que sofri: é preconceito por eu ser negro, da Ceilândia. É por isso isso que Rollemberg me despreza. O governador nunca escondeu seu desprezo pelos mais humildes”, atacou.
Renato fez um discurso antológico. Fez mea culpa, é verdade, e se penitenciou por avalizar os atos de Rodrigo. O primeiro erro, disse, foi ter composto a chapa como vice-governador.
Depois enumerou mais equívocos: “Errei quando apoiei esse plano de governo. Houve aumento nas tarifas dos ônibus, aprovado na calada da noite. O governador transformou a saúde pública num caos; a cidade vive insegura, pois faltam investimentos na área de segurança. E, para piorar, ele (Rollemberg) permitiu que viadutos, sem manutenção, desabassem (numa referência ao que aconteceu na Galeria dos Estados).
Renato admitiu que quem está na chuva é para se molhar. Consequentemente, não vai renunciar à sua condição de vice-governador, por entender que os eleitores humildes que ajudaram a eleger a chapa, votaram em respeito a ele e acreditando na palavra e nas promessas dele.
– Renunciar é ato de covardia. Não teria como olhar para minha mãe (dona Arlinda, que tem uma banca na Feira de Brazlândia) se traísse o eleitor e jogasse a toalha. Continuarei lutando pela sociedade, por dias melhores para o Distrito Federal. “Mas me calar o governador não vai conseguir”, garantiu.
Rogério Rosso e o tucano Izalci Lucas – deputados que sugeriram a sessão solene em homenagem a Brasília e nomes fortes para disputar a sucessão em Brasília -, apoiaram o discurso de Renato Santana.
Rosso, particularmente, sublinhou que o desafio agora é organizar serviços públicos para uma população maior do que a esperada. “Brasília foi planejada para ter 500 mil habitantes, mas já chegou a 3 milhões”, disse. “Esse desafio não converge com a atuação do atual governador, que ajudamos a eleger”, sentenciou. E completou: “Não esperávamos viver o maior caos em alguns serviços, como na saúde e na segurança pública”, completou.
Já Izalci Lucas lembrou que, em contra-ponto aos desacertos do Buriti, a bancada na Câmara “está fazendo seu dever de casa”. Como exemplo, ele citou autorização para que o Distrito Federal conceda incentivos fiscais similares aos que vigoram em outros estados, por meio da Lei Complementar 160/17.
Em tempo: procurada, a assessoria do governador não retornou o contato.
P.S. – No final da tarde, o Palácio do Buriti divulgou a seguinte nota:
As palavras do atual vice-governador do Distrito Federal não surpreendem. Reafirmam sua conduta despreparada, imatura, inconsequente e por diversas vezes distante da realidade dos fatos.
São palavras inconsequentes e irresponsáveis. Falta envergadura moral ao vice para falar em lealdade.
Lembremos do episódio do borracheiro, em Brazlândia. Em substituição ao governador, Santana ofendeu o proprietário da loja, após enganá-lo. É a prova da sua maneira de atuar.
Agora, de forma leviana e mentirosa, Santana busca o discurso da vitimização, recorrendo a argumentos estapafúrdios para acusar o governador de preconceitos jamais alegado por qualquer pessoa séria em Brasília. Usa o método sorrateiro para esconder sua incapacidade administrativa.
A ação dele não afetará a disposição do Governo de Brasília para melhorar a qualidade de vida da população.
Governo de Brasília