Depois que as crianças crescem um pouco, alguns passeios e viagens passam a ser “coisa de bebê, mãe”. Piscinas rasas, sungas e biquínis de personagens de desenho animado, brincadeiras com monitores, nada mais parece fazer sentido aos nossos pequenos – que já não perdem a chance de dizer para a gente não, não são mais tão pequenos assim. Quando acaba a primeira infância, muitas crianças começam a gostar de atividades mais radicais como arvorismo, tirolesa, rafting. E muitos de nós acabam se aventurando com elas, porque para manter o coração tranquilo é melhor ir junto.
De olho nessas famílias ‘aventureiras’, a cidade de Brotas, a 250 km de São Paulo, vem se posicionamento mercadologicamente como o destino turístico para as famílias com filhos ‘maiorzinhos’, explica o secretário de Turismo da cidade, Fabio Pontes. “E não recebemos apenas pais, mães e filhos. Muitas vezes eles vêm acompanhados de avôs ‘radicais’ que viajam junto também”, completa, brincando. As famílias com crianças em torno de nove a quinze anos foram a maioria dos cerca de 320 mil turistas que visitaram a cidade em 2019, embora existam atrações para os pequenos a partir de seis anos de idade, explica.
Brotas viveu o século passado inteiro basicamente da plantação de laranja e café. Em momentos de crise de preços ou problemas na safra, a cidade perdia moradores e consequentemente receita. Em uma tentativa de gerar empregos em outros setores durante os anos 90, quase permitiu a instalação de um curtume, atividade que produz resíduos poluentes, fazendo com que os empresários da região se unissem um movimento, a ONG Rio Vivo. Dessa luta para a preservação de um dos únicos rios limpos do estado de São Paulo, o Jacaré Pepira, para o entendimento de que o turismo sustentável seria a redenção da cidade, que tem ainda serras, cachoeiras e mata conservada foi um pulo. Em 1993, Brotas tinha apenas um hotel. Hoje já conta com 47 estabelecimentos de hospedagem que oferecem 2400 leitos para os turistas.
Mas não é preciso obrigatoriamente se hospedar na cidade para ter acesso aos esportes radicais e atividades ao ar livre que Brotas oferece. Muitos dos ecoparques foram construídos para passar o dia, no sistema conhecido como ‘day-use’: você compra o ingresso de acordo com as atrações que quer desfrutar. Pode passar o dia na piscina apenas curtindo a vista ou nadar em cachoeiras, andar de quadriciclo e a cavalo ou fazer atividades mais radicais, como arvorismo, tirolesa ou rafting.
O Recanto das Cachoeiras, que visitamos no primeiro dos três dias que passamos na cidade, tem duas cachoeiras abertas à visitação. Uma delas, a Santo Antônio, é completamente acessível para cadeirantes, que conseguem, inclusive, deslocar-se até à queda d’água. Aliás, as trilhas que levam às cachoeiras são calçadas com pedras e equipadas com corrimão, fazendo com que o deslocamento seja bem seguro para as crianças e os idosos. Além de um mirante de tirar o fôlego, o local construiu recentemente uma piscina de borda infinita que se mistura com a serra e que é a sensação daqueles que adoram uma foto para postar nas as redes sociais. O local tem estacionamento, vestiários, redário, restaurante, bar na piscina e wi-fi. É um jeito confortável de passar o dia com as crianças sem abrir mão de um certo conforto com o qual muitos estão acostumados.
Outro ecoparque que atende no sistema ‘day-use’ é o Cassorova, que se orgulha por ter em seus domínios ‘a cachoeira mais bonita de Brotas’ e ‘a melhor para a prática de canyoning’, segundo o Guia Quatro Rodas. A Cachoeira Cassorova tem uma queda d’água de 60 metros de altura e é possível se banhar em dois pontos: em sua base, onde se forma uma piscina natural, e no meio, onde há um deck. O acesso também é fácil. Apenas 200 metros de trilha calçada, com corrimão e autoguiada, ou seja, você não precisa que guia nenhum te leve até lá. Se não quiser se molhar, mas só apreciar a vista, também há vários locais de observação.
Ao comprar ingresso e entrar nos ecoparques de Brotas, os turistas recebem pulseirinhas coloridas de papel, o chamado ‘voucher turístico’, explica o secretário de Turismo da cidade, Fabio Pontes. No início de cada mês, os empresários fazem uma estimativa de quantos turistas irão receber e compram o material em sistema de consignação. “Quando chega o final de mês, ele presta contas para a prefeitura e paga R$ 1,17 por pulseira utilizada”, explica. Dessa forma, Brotas sabe quais são as atividades mais procuradas e o número exato de pessoas que têm visitado a cidade, informação importante para evitar o turismo predatório. “A expectativa para 2020 é receber 350 mil pessoas e eu sei que nossa capacidade de receber sem prejudicar o meio ambiente é de 500 mil turistas por ano”, completa.
Quem prefere se hospedar em chalés onde há uma cozinha equipada, permitindo cozinhar as próprias refeições, (mas com um ótimo restaurante se não quiser ter trabalho algum) pode escolher o Poção, que também atende em sistema de day-use e é bem mais perto da cidade do que o Recanto das Cachoeiras e o Cassorova. Há praia de rio, boia cross, flutuação, arvorismo e caiaque. Algumas atividades mais radicais, como o rafting de 8km no Jacaré Pepira (e a tirolesa feita no meio desse trajeto em cima de uma das quedas d’ água) são operadas em parcerias com agências, como a Alaya, que fica no centro da cidade. Embarcamos nesse roteiro por insistência do meu filho aventureiro.
Antes de entrar no rio, é feito um treinamento em uma piscina de água doce anexa ao Jacaré Pepira. Lá aprendemos a se posicionar no bote, remar, ouvir as instruções de comando, como socorrer ou agir se caíssemos no rio. E fomos. É tudo muito mais seguro e divertido do que eu imaginava, confesso. Eu que sempre tive pavor de coisas muito radicais estou louca pelo próximo desafio, capitaneado meu filho, que não é mais um bebê.