Mostrar a bunda em uma universidade pública nada tem a ver com liberdade de expressão, tampouco com pedagogia artística. Independentemente de quem sejam os glúteos, rebolar frenética e eroticamente durante uma palestra supostamente científica é coisa de pessoas que mantêm a mãe na zona ou, no mínimo, ainda vive nela. Sou esculhambado por natureza. No entanto, mantenho o mínimo de respeito em meus roteiros, na medida em que escrevo com libertinagem e lascívia sobre fatos e situações de devassidão, mas nunca erotizo uma frase ou a integridade do texto com indecências gratuitas.
Prefiro a graça, a farra, o pitoresco e o inusitado à sacanagem sem noção. Foi o que fez a travesti Tertuliana Lustosa, que se apresenta como “escritora, cantora, compositora e historiadora”. Mostrando que a ignorância e a imbecilidade cultural não estão vinculadas à ideologia, ideias, simpatia partidária, classe social, pluralidade de gêneros ou conhecimento, o “proibidão” performático da pesquisadora de meia pataca deveria ficar restrito onde “ela” costuma educar com o toba.
“Também conhecida como “traveco-terrorista”, “ela” teve e perdeu a oportunidade de usar o debate acadêmico-científico para uma apresentação que, por exemplo, privilegiasse suas colegas travestis, a maioria com escolaridade mínima e sem direito a uma educação formal. De tão ridícula, a cena mereceu críticas de todos os lados, inclusive e sobretudo de homens, mulheres, gays e simpatizantes acostumados a se utilizaram dos ambientes de educação para se aculturar e não para mostrar o caneco branco e depilado com cola de farinha de trigo como forma de se manifestar contra a carcomida e tacanha sociedade reacionária. Os aplausos ficaram escondidos.
Se a proposta era essa, lembro à quase mulher que há formas menos grosseiras de mostrar aos defensores do conservadorismo o quanto eles estão ultrapassados. Pôr o rabo de fora significa dar munição ao extremo que sonha com a doutrinação do povo brasileiro. Em última análise, erotizar explicitamente o que seria uma aula envergonha até mesmo os que não têm vergonha de vender, alugar, emprestar ou ceder gratuitamente o caneco que a mãe, a tia, a avó e a madrinha de crisma e de consideração tão carinhosamente cuidaram com pomadinhas e talquinhos importados do Paraguai.
Nada contra sua opção sexual, mas ser libertário, simpatizante da esquerda, potencialmente democrata e avesso ao patriotismo de conveniência não são sinônimos de bundalelê. Em lugar de mostrar o rabo branco e feio para estudantes da Universidade Federal do Maranhão, Tertuliana Lustosa deveria ter lustrado a cara de pau, soltado as amarras trans e pelo menos a seu embasbacado público que mostrou a bunda para provar que não tem o rabo preso. Muito pelo contrário. O fato é que, não bastasse a bunda feia e branquela da cidadã que já foi cidadão, educar com o C* não é para qualquer um. Ou qualquer uma.
Antes de se achar pronta para tentar explicar “as implicações do prazer enquanto potências pedagógicas e artísticas”, a sujeita tem de saber com quantos paus se conserta uma canoa. Que eu saiba, até agora ela sabe a quantidade de paus que fura uma canoa. Via fax, enviei uma pergunta para Tertuliana a respeito da melhor pomada para hemorroidas. A resposta mostrou como a “moça” está atrasada em termos educacionais. Segundo ela, o medicamento ideal é o creme deixa eu meter na zona. O Google retificou e me informou que o nome correto do bálsamo é Dexametasona. Concluo indagando a todos se há alguma diferença entre mostrar a bunda para causar impacto, e invadir prédios públicos para quebrar?
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras