Bartô Granja
Nos últimos suspiros da passagem de Agnelo Queiroz pelo Palácio do Buriti, ao menos 11 empresas de pavimentação – entre elas Etec, GW e JM – deixaram imensos buracos em ruas, ruelas e avenidas do Plano Piloto. Era a época da euforia, do sonho da reeleição, das contribuições de empresas, da estiagem e da entressafra que se estendeu entre os meses de junho (de 2013) a agosto (de 2014).
Apesar da pouca água que o Céu despejava nas vias, foram deixados buracos que fizeram vingar uma superprodução de 65 mil garoupas. Em termos de moeda corrente, significam 65 milhões de reais. Quem saboreou do peixe, ninguém sabe. A única certeza é a de que quem prestou os serviços, superfaturou a oferta em exatos 64 milhões e 600 mil reais. Ou algo em torno de 50% do total de 152 milhões contratados.
Esses números são do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Uma análise do trabalho contratado pela Novacap, agora concluído pelos auditores daquela Corte, revela que a estatal responsável por contratar as empresas, atestou o recebimento das obras abaixo dos parâmetros mínimos de qualidade, devido à ineficiência do controle sobre a execução dos serviços. Em tradução para a linguagem popular, isso significa superfaturamento por baixa qualidade do serviço.
Segundo o TCDF, a Novacap também pagou por serviços mais caros do que os efetivamente realizados e por quantidade maior que a realmente utilizada. Nesse caso, superfaturamento por quantidade. Ainda há mais um agravante: as estimativas de preços de materiais e serviços acima dos valores de referência, ou seja, superfaturamento por sobrepreço.
Os técnicos do Tribunal sustentam que, para a população, o resultado prático dessas falhas é um asfalto de péssima qualidade, que começou a apresentar problemas em pouco tempo. “Trata-se de um duplo desperdício de recursos públicos: primeiro, pagando por um serviço sem qualidade; depois, tendo que gastar com a manutenção e o conserto das falhas. Isso sem falar nos prejuízos para os carros e motoristas, na piora do tráfego e no risco para a segurança de quem transita pelas ruas”, diz documento emitido pela Corte.
O ‘Asfalto Novo’ anunciado na administração de Agnelo, deixou muitos buracos. Para evitar que um novo cardume de garoupas alimente bocas supostamente sedentas por dinheiro, o Tribunal de Contas promete ficar de olho em quanto e a quem se paga pelos mesmos serviços realizados pela atual administração.