Os empresários da produção e do consumo, diante da Nova Indústria Brasil, lançada pelo presidente Lula, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões, chegam à conclusão óbvia: ficar perto da burguesia financeira, especulativa, da Faria Lima, consumindo seus conceitos neoliberais, não dá lucro, só prejuízo.
O desastre, para o consumo e a produção, é a elevada taxa de juros Selic que o Banco Central Independente (BCI), aliado da financeirização econômica, sustenta como punição severa ao desenvolvimento econômico sustentável.
Para os capitalistas da produção e do consumo, o positivo é dispor-se de consumidores com poder aquisitivo, é, portanto, aliar-se aos trabalhadores que geram valor para multiplicar lucratividade do setor produtivo.
Sem consumidores, barrados pelos juros altos, que somente favorecem a especulação, o futuro empresarial estará totalmente comprometido.
Os capitalistas produtivos não encontrarão motivações para novos investimentos, se não tiverem retorno para o capital investido, quanto mais se alinham ao financismo, que produz o subconsumismo e, consequentemente, redução da sua taxa de lucro.
No curto prazo, os setores produtivos colocam sua poupança, acumulada na exploração da mais valia do trabalhador, na especulação, para faturar o juro alto Selic.
Num segundo momento, no entanto, a produção, sem consumidor, porque o trabalhador tem seu poder de compra achatado, pelas reformas neoliberais, tende a levar a taxa de lucro do negócio a zero.
A empresa se fragiliza, e frágil, perde capacidade financeira para continuar faturando no jurismo-selic especulativo, já que precisa de ativos sólidos para continuar o jogo arriscado da especulação financeira, para manter a acumulação de capital.
Essa tarefa, no cenário da financeirização, só pode ser bancada pelos especuladores, que vivem da Selic, dos juros crescentes, quanto mais o poder de compra dos trabalhadores perde capacidade de transferir valor aos empresários.
O que acontece, por exemplo, com os filiados da Fiesp, que fazem parte da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é sintomático: perdem capacidade de acumular capital, na produção e no consumo, afetados pelo subconsumismo neoliberal, sendo engolidos no processo de monopolização e oligopolização da economia, em seu conjunto.
Transformam-se, pois, em empresários de segunda ou terceira categoria, obrigados a virarem representantes de produtos de terceiros, que, antes, eram fabricados por eles.
A quantidade de empresários que se transformam em representantes comerciais de produtos chineses, antes fabricados internamente, é o retrato cruel da desindustrialização no contexto federativo nacional.
Sem saída, os empresários, em geral, passam a viver das benesses do Sistema S, subsidiado pela renda que o sustenta, retirada de um percentual incidente sobre a folha nacional de salários, recolhida pelo INSS e distribuída às federações.
O Sistema S, em essência, é gerado pela renda dos trabalhadores, apropriada pelos empresários, cujas empresas, no cenário da financeirização, entram em crise de realização de lucros.
Não é à toa que as eleições para as presidências das federações, que formam a Confederação, acabam sendo promotoras do mais puro corporativismo político de representantes empresariais cujas empresas não conseguem mais sobreviver diante da taxa Selic.
A financeirização econômica destrói o parque produtivo nacional em escala crescente.
Por isso, o presidente da Fiesp, Josué Gomes, e o da CNI, Ricardo Alban, defendem para a indústria os mesmos benefícios auferidos pelo agronegócio, que não paga imposto sobre exportação de produtos primários e semielaborados(lei Kandir).
Se o industrial passa a receber incentivo pelas exportações de produtos manufaturados, evidentemente, que o produtor de minério ou de soja vai se interessar por manufaturar seu produto.
A industrialização cria emprego de qualidade com renda média superior, para dispor de maior poder aquisitivo.
Nesse novo contexto, ganhará força política para defender a indústria nacional dos concorrentes externos, como cobrança de impostos não sobre exportação mas sobre importações.
Com esse jogo da industrialização lulista, o governo consegue atrair para o seu lado os industriais que estavam, equivocadamente, alinhados ao capital financeiro, diante do qual somente leva chumbo nas asas.
Os rentistas, que vivem do jurismo-selic, não querem, evidentemente, essa industrialização.
Defendem, ao contrário, manutenção de custos elevados de energia, petróleo e aço, insumos industriais para que a indústria nacional não seja competitiva, o que atende interesse dos concorrentes internacionais, favoráveis à importação de partes, peças e componentes pelo mercado nacional.
A manutenção do preço de importação dos derivados de petróleo, pelo PPI, dolarizados, como faz a Petrobras, atende os concorrentes externos da indústria nacional, porque mantém custo elevado para consumidores e produtores internos, dificultando sua competitividade nacional e internacional.
Esse é um esquema que, por exemplo, beneficiaria a política nacionalista defendida por Trump, para os Estados Unidos, de terem concorrentes que não possam praticar preços competitivos com as indústrias americanas, devido ao alto custo interno de energia.
Ao contrário, aos industriais brasileiros interessa o custo baixo de energia, especialmente, do óleo diesel, produzido em refinarias nacionais, para garantir competição externa.
Uma campanha nacionalista de “O Petróleo é Nosso” ou “A Petrobrás é Nossa” favorece, indiscriminadamente, seja o consumidor, seja o industrial, razão pela transforma-se em fator de união nacional, relacionado à capacidade da indústria produzir a preços competitivos a partir de oferta barata de derivados de petróleo etc.
Capital e trabalho, portanto, com industrialização que Lula coloca em marcha, só têm a ganhar, distanciando-se do capitalismo financeiro que objetiva a destruição de ambos para manter elevada acumulação de capital, meramente especulativa.
Os pontos de vista laboral e patronal sintonizados fortalecem, adicionalmente, a proposição de Lula de isentar do IR quem ganha até dois salários-mínimos, ampliando para cinco SM, até final do mandato, em 2026, como propôs em campanha eleitoral.
Afinal, trata-se de estratégia fundamental para a industrialização na medida em que fortalece o consumo interno sem o qual ela não existirá, sustentavelmente.