Mas que diabos são esses que rondam a disputa pelo Palácio do Buriti em 2018? Brasília vive a terceira eleição seguida onde uma reviravolta de última hora modifica os prognósticos e redistribui cartas. Até para jogadores que estavam fora da mesa. Bastou fazer retroagir a uma lei em 2010 para, primeiro, eliminar Joaquim Roriz para depois desencadear uma sucessão de eleições por eliminação que parece não ter fim.
A decisão da justiça de julho de 2014, com a campanha já em andamento, também tinha tirado do jogo José Roberto Arruda. Mas isso não chegou a criar comoção, em razão da repercussão da Caixa de Pandora quatro anos antes.
Personagem em comum nesses eventos foi Jofran Frejat (PR). Vice de Roriz preterido por Dona Weslian na cabeça de chapa há oito anos, vice de novo, mas desta vez chamado para a substituição na campanha passada. Nada mais lógico para o ex-secretário de Saúde que preparar uma campanha que parecia vencedora.
Eleição e mineração, só na apuração, como diz o ditado. Mas nem os adversários podem negar que o caminho de Jofran parecia uma autoestrada recentemente recapeada em direção à cadeira maior do Distrito Federal. Pesquisas muito favoráveis, candidatos proporcionais se acotovelando para tirar foto ao lado do “bom velhinho”, pesos-pesados da política local prontos para aceitarem a opção senatorial…
Qual pedágio Jofran não quis pagar? Talvez o tempo libere a palavra e as confidências daquele que, certamente, poderia ter sido governador. Um livro, talvez, para contar os bastidores dessas três corridas eleitorais nas quais ele foi num momento sempre diferente (vice, substituto e pré-candidato), o protagonista.
Mas enquanto até o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) tinha uma conversa contrita com o ex-futuro por telefone, nas outras trincheiras o espólio dos 27% de intenções de votos era disputado. Inclusive a tapas. E até o fim. Nas últimas horas do último dia de registro das candidaturas, negociações estavam em curso. Não é coincidência que as chapas de Eliana Pedrosa (Pros) e de Alberto Fraga (DEM) tenham chegado em cima da hora no Tribunal Regional Eleitoral. E Rogério Rosso (PSD) tenha batido no peito dizendo que estava voltando.
São 11 candidatos ao Buriti em 2018, mas sobretudo sete com possibilidades reais de se qualificarem para o segundo turno. Situação inédita na curta história eleitoral da capital da República. E quase tudo nesta eleição é inédito.
Campanha com duração pela metade, com limitação de custo, sem financiamento empresarial. E com três postulantes iniciando suas carreiras políticas pela busca majoritária maior: Alexandre Guerra (Novo), general Paulo Chagas (PRP) e Ibaneis Rocha (MDB).
O partido Novo faz claramente jus ao nome. Candidatos de primeira viagem, escolhidos e formados, com vida pregressa de sucesso, recusa de qualquer recurso público na campanha (o Novo devolveu os 5 milhões de reais do deprimentemente recém-criado Fundo Eleitoral), sem coligação caça-votos. Até mesmo em sua clareza ideológica ele inova quando a imensa maioria das siglas misturam alhos e bugalhos para ganhar um votinho. O Novo é liberal. Pode-se criticar à vontade o posicionamento da legenda, mas a forma de defendê-lo agrada. Mas o ridículo tempo de televisão, a ausência legal dos debates, o pouco interesse do eleitor pela campanha como um todo serão obstáculos intransponíveis. Pelo menos desta vez.
O general Paulo Chagas não é Jair Bolsonaro. Suas falas, seus posicionamentos, até suas atitudes não lembram o estilo-trator do candidato do PSL à Presidência. Mas o palanque é o mesmo. E as pesquisas no Distrito Federal indicam uma clara inclinação do eleitorado em direção ao inusitado carioca. Por sinal, não deixa de surpreender numa cidade que, há apenas oito anos, foi a única unidade da Federação a preferir Marina Silva. Se la dona è mobile, o eleitor brasiliense também.
O terceiro personagem estreante é o mais político na alma. E em todos os sentidos. É verdade que as intenções de voto de Ibaneis Rocha são, por enquanto, inversamente proporcionais ao patrimônio pessoal declarado (não longe dos 100 milhões de reais). Mas o peso da coligação encabeçada pelo MDB, o longo hábito das defesas árduas de causas sindicais nos tribunais superiores, a desenvoltura que o ex-presidente da OAB-DF mostrou nos debates e sabatinas devem servir de alerta para quem o coloca fora do jogo.
A disputa mal começou. E terá ainda surpresas. Como de costume.