Logo ali
Cabeceiras, no Entorno, abre as portas da história

Há estudos acadêmicos e comprovações científicas de que, já por volta de 1700, existiam estradas que cortavam o Centro-Oeste brasileiro, inclusive, algumas passando por onde hoje se localiza o Distrito Federal. Estudos entre os quais se destaca a obra do professor Paulo Bertran e de seus seguidores, como o professor Eduardo Pessoa Queiroz, ajudam a contar essa história.
Segundo Queiroz (2007), Santa Luzia, Meia Ponte e Arraial dos Couros, respectivamente Luziânia, Pirenópolis e Formosa, seriam os Municípios Gênesis, ou aqueles que deram origem ao aparecimento, desdobramento e crescimento dos demais núcleos urbanos que hoje compõem a Região do Entorno de Brasília.
O fascínio pela riqueza histórica e cultural das cidades que fazem parte da Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno de Brasília – RIDE, levou o jornalista e produtor cultural Eduardo Monteiro a dar início a um projeto de produção de pequenos documentários sobre a história e as tradições das cidades vizinhas a Brasília.
O jornalista conta que seu entusiasmo pelo tema foi herdado de seu pai, Domingos Monteiro, um pioneiro e funcionário do antigo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS. “Com meu pai andei muito, e ele me ensinou muita coisa sobre o Cerrado e o Entorno. Na metade dos anos 1990, quando li História da Terra e do Homem no Planalto Central, do professor Paulo Bertran, e mais tarde conheci o Memorial das Idades do Brasil, comecei a sonhar com esse projeto”.
Ainda segundo Monteiro, ele está mantendo conversas com o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHGDF, para a produção de um filme de animação mostrando o Planalto Central desde a Pré-História. “Existem no DF mais de 50 sítios arqueológicos com mais de 11 mil anos de existência. Temos em mãos uma história fabulosa que precisa ser contada para a população, especialmente para crianças e adolescentes”.
Mas antes de pôr em prática essa sua ideia sobre o projeto do filme de animação, ele começou a produzir e buscar apoio para a produção de pequenos documentários sobre o Entorno. Conta que fez inicialmente um piloto (espécie de protótipo), bem simples mesmo, sobre Cabeceiras-GO, apenas para materializar a ideia do projeto. Depois teve a motivação de escrever um pequeno texto sobre a história da cidade, e resolveu ilustrar com algumas imagens.
“Cabeceiras, por exemplo, é onde nasce o Rio Urucuia, um dos principais afluentes do Rio São Francisco e peça fundamental da obra de Guimarães Rosa”.
Um Olhar Sobre Cabeceiras é um ensaio audiovisual, que tem a brilhante locução de Antonio Victor, e conta de forma livre a percepção que tive sobre a pequena cidade de Cabeceiras, no Estado de Goiás, que a exemplo de outras cidades do Entorno do DF possui uma bela história, pessoas interessantíssimas, personagens incríveis e muita tradição e cultura para ser vivenciada”, completa.
Um Olhar Sobre Cabeceiras, traduzido na poesia de Eduardo Monteiro
Cabeceiras, flor pequena do cerrado goiano, florescida em meu rosário de memórias.
Aquela cujo destino traçou a sorte ao redor de uma fogueira, e os ventos planaltinos ainda hoje folheiam as páginas da tua linda história…
Cabeceiras, de campos e barrancos, berço das águas do soberano Urucuia, caminho das veredas; porteira aberta ao Grande Sertão.
A poeira do teu chão não foi pisada pelos passos do arquipoeta Guimarães. Não, Rosa não a pintou em sua aquarela, mas é certo que a suave luz de tuas manhãs, com sutileza, revela aos poucos tua tímida beleza, qual sorriso encabulado de moça donzela.
O badalo do chocalho, o rasgo do arado, o açoite da foice, o carinho da enxada. Terra amada, a procissão vai distante e a prece cala. O sino da matriz se foi pelos quatro cantos. Também se foram o berrante, o alto falante, o bem-te-vi tão constante. Agora, o silêncio engole minha fala, e a noite deixa cair o seu escuro manto.
Cabeceiras! Cabeceiras de violas e violeiros, de ponteios, poemas e trovas, do céu respingado de estrelas, do breu até perto d’aurora. Cabeceiras! Mãe dessa gente altaneira e generosa, que canta com orgulho em verso e prosa tuas glórias estradas afora, porque nesse caminho, construído, sem nenhum devaneio ou passo desmedido, tu serás, sempre, e eternamente formosa, Cabeceiras!
