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Fonte fajuta da juventude

Cabelos negros falsos fazem Apolo brochar

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/PXhere

Ainda curtindo as minhas férias em Porto Alegre, nem por isso deixo meus leitores de Notibras na mão. Por isso, todos os dias escrevo uma crônica e a encaminho para a redação. Como a que vai transcrita a seguir.

Apolo, apesar do nome, não tinha aparência apolínea. Não que fosse feio. Mas nada de especial. Passaria quase despercebido pela multidão, caso não fosse todo aquele cuidado com a aparência. Morria de medo de envelhecer.

Se surgisse um fio de cabelo branco, lá ia o homem arrancá-lo com uma pinça ou, na falta de uma, com as pontas dos dedos. Doía, é verdade, mas dor pior era perceber que, de tantos cabelos brancos, ele não conseguia arrancá-los todos. Ou, se o fizesse, ficaria igualzinho ao seu vizinho, que só saía de casa após passar uma generosa camada de protetor solar na careca.

Pensou em usar boné ou até mesmo um chapéu. Logo desistiu da ideia, mesmo porque não fazia muito sentido usar tais apetrechos o tempo todo. Optou por uma estratégia mais radical. Trabalhosa, é verdade, mas que o deixaria tranquilo para desfilar seus cabelos cheios de gel.

Decidido, entrou logo cedo em uma farmácia. Parou diante da estante de produtos de beleza e, não demorou, escolheu a tinta com o tom mais próximo ao dos seus cabelos. Voltou quase correndo para casa, tamanha a ansiedade para se livrar daqueles sinais de velhice, que tanto o incomodavam.

Mal abriu a porta, foi ler a bula. Era até simples. Despeja aqui, mexe ali, logo a coisa ficou pronta. Diante do espelho, começou a passar aquela mistura nos cabelos. Algum tempo após, entrou debaixo do chuveiro e viu aquela tinta escura descer pelo ralo. Pronto! Seus cabelos ficaram como novos. Sentiu vontade de passear pelo bairro, onde todos poderiam perceber que ele estava mais jovem.

O homem vestiu uma calça jeans quase apertada, pegou a blusa mais descolada, calçou o par de tênis colorido. Ficou em pé diante do espelho por quase meia hora. Olhou-se de todos os ângulos e, satisfeito, saiu quase saltitante de felicidade.

Já na calçada, fazia questão de parar diante de todas as vitrines. Não que quisesse comprar algo, mas apenas se sentiu apaixonado pela própria imagem refletida. De vez em quando, um vendedor saía para atendê-lo. A resposta, no entanto, era sempre a mesma: “Obrigado, estou apenas olhando”.

Após quase o dia inteiro batendo pernas, o estômago reclamou. Se estivesse em qualquer outro lugar, entraria numa lanchonete. Como morava em Porto Alegre, sentou-se à mesa da primeira lancheria que encontrou.

De tanta fome, resolveu encarar um xis. Enquanto aguardava, observava os outros clientes, certo de que todos estavam admirando seu cabelo quase preto. Que sensação deliciosa!

Tão distraído estava em seus devaneios, que não percebeu quando a Anita, uma colega que há muito não via, se sentou justamente à mesa ao lado. Não demorou, os dois cruzaram olhares e, em seguida, resolveram se sentar juntos.

A mulher fez seu pedido, mas não tão guloso como o do amigo. Apenas um hambúrguer modesto e um suco de laranja. Apolo, vez ou outra, passava as mãos nos lustrosos cabelos, talvez para impressionar a figura feminina à sua frente. Ela sorria, como se estivesse gostando de ser paquerada daquela forma.

– Sabe o que sempre gostei em você, Apolo?

– Não. O quê?

– Apesar da aparência até jovem, de vez em quando você age como um velho. No bom sentido, é claro!

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