Notibras

Caçador de comunas vive no quintal do mestre Fidel

Mestre supremo e incontestável exportador da espionagem, o falecido líder cubano Fidel Castro enganou os Estados Unidos por quase três décadas. Nesse período, por meio do serviço de inteligência que ele mesmo criou, Fidel colocou em campo dezenas de agentes duplos em uma operação de nível mundial debaixo do nariz da CIA. Os agentes eram recrutados e comandados pessoalmente por Castro. Estes e outros detalhes estão em um livro escrito por Brian Latell, veterano analista da inteligência norte-americana. Pós-graduado e doutorando em comunismo, o então presidente de Cuba sobreviveu a várias tentativas de assassinato e conseguiu resistir às mudanças que derrubaram outros regimes comunistas no fim do século passado. Fidel nasceu, viveu, morreu e, caso reencarne, será comuna.

Conforme Latell, o esquema castrista era tão profissional que a “penetração” cubana em território americano chegou a comprometer as fontes e métodos da inteligência dos EUA. A rede de intrigas montada a partir de Cuba tinha Miami como base, cidade escolhida pela maioria esmagadora dos desertores do regime de Fidel. E o que tem a ver Miami com o Brasil? Tudo, inclusive nada. Berço dos brasileiros endinheirados, a metrópole da Flórida tem hoje uma ex-personalidade ilustre tupiniquim fazendo parte dos quadros da nova contra espionagem. Quem? Quem? Jair Messias Bolsonaro! Anticomunista por conveniência e por sua medieval necessidade de estar na mídia, sua insolência deixou os braços de Morfeu e partiu para o aprendizado espiritual com Fidel.

Às vezes, o Bozo também toma aulas com o falso caçador de comunas Donald Trump. Falso porque suas maiores votações foram registradas na Flórida, onde estão concentrados os novos ricos hispânicos e brazucas, a maioria metida com a extrema-direita. Mas, além de fugir de Xandão, o que quer Bolsonaro em Miami? Para quem se manifesta diariamente contra a esquerda, é uma contradição personal e política se esgueirar justamente no reduto de Fidel Castro, professor virtual e físico do petismo, cujos integrantes aprenderam quase tudo sobre a a construção de uma sociedade baseada na igualdade e caracterizada pela ausência do Estado, classes sociais e propriedade privada. Seria a doutrina das condições de libertação do proletariado. Ou seja, tudo muito lindo de se falar, ouvir e escrever, mas impossível de se praticar no mundo moderno.

Mesmo no antigo. As exceções se finaram ou nadam diariamente contra a maré. O fato é que, felizmente, os petistas dos anos 80 faltaram às aulas práticas sobre a implantação do comunismo no Brasil, uma utopia que só tem eco nas cabeças sem miolos dos bolsonaristas raiz e dos patriotas de araque. Prova disso é a desimportância das siglas que se denominam com ideologias comunistas, com destaque para a União da Juventude Comunista (UJC), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e Partido da Causa Operária (PCO). Na teoria, a tese do comunismo na antiga ilha de Fidel e na atual Venezuela de Nicolás Maduro é uma fanfarra, uma piada de mau gosto. A bem da verdade, é criminoso dizer que cubanos e venezuelanos têm acesso ao trabalho e à riqueza produzida.

Afirmar tais anomalias é permitir que os alemães Karl Marx e Friedrich Engels, autores do Manifesto Comunista, confabulem em seus túmulos sobre a merda que produziram. Mas o que faz Bolsonaro, um líder controverso, em Miami? Imagino que não seja apenas para repousar na cidade escolhida por personagens desagradáveis do Hemisfério Sul, entre eles o cubano Fulgêncio Batista, o nicaraguense Anastasio Somoza Debayle e o haitiano Matthieu Prosper Avril. Todos escolheram viver na Flórida porque fugiam de revoluções que derrubaram seus governos. Não é o caso de Jair Messias, o “Trump dos Trópicos”, hoje convivendo com brasileiros, cubanos, venezuelanos, colombianos, costarriquenhos, nicaraguenses e dominicanos, povos que ele adora tanto quanto a patriotada que obrigou a chamá-lo de mito.

Como barata zonza na terra de Tio Sam, Bolsonaro deve estar tentando de tudo para voltar mais feroz ou menos bonzinho. Provavelmente está tendo lições mais atualizadas com a Ku Klus Klan (KKK), de modo a recriar o carcomido Comando de Caça aos Comunistas (CCC) , do “herói” Carlos Alberto Ustra. Posso estar sendo injusto com o moço que está fazendo o que o peixe faz em Fort Lauderdale, Boca Raton e Palm Beach, locais de mar, sombra e água fresca. Tudo pago em dólar, mas sempre em nome de Deus, da família e dos bons costumes. Talvez ele estivesse aproveitando melhor seus polpudos vencimentos tendo aulas de boas maneiras ou aprendendo a lidar com seus pares, com os eleitores e, sobretudo, com Xandão, o moço da toga, cujo enigmático sorriso gera pesadelos na alma penada do fujão que jogou dez no veado e pegou a reta do Cerrado.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Sair da versão mobile