Alguns ditados populares são autoexplicativos. Outros são elucidativos ou imaginários. Todos, porém, são proféticos, no melhor estilo Nostradamus. Entre os mais esclarecedores, destaco que Deus não dá asas às cobras e um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Sem vinculação semântica, mas de conteúdo absurdamente poético, os dois provérbios significam quase a mesma coisa. O primeiro lembra que o Mestre não dá poder às pessoas que não merece. Quando dá por um descuido qualquer, não repete. O segundo se refere a “eventos” que não costumam acontecer duas vezes no mesmo local ou com a mesma pessoa.
Dito isto, cuja definição pode ser os entretantos, passo direto para os finalmente. Em um passado recentíssimo, vivenciamos isso no Brasil e nos Estados Unidos, cujos presidentes parceiros enganaram, negaram o que puderam, ameaçaram quem quiseram e acabaram amaldiçoados como as serpentes. Aos trancos, barrancos e solavancos, tentam voltar à cena política. Tentam, mas o merecido castigo ainda não foi devidamente aplicado. Foram e deverão ser substituídos novamente por supostos heróis, cuja diferença para os vilões, principalmente os que se fazem de vítimas, são apenas os objetivos. Nos EUA, Kamala Harris ganhou o primeiro round. Agora, falta o nocaute.
Aliás, diz a lenda que os vilões precisam ter sempre sorte. Aos mocinhos basta uma oportunidade. Sobre vilões vitimizados, diria que a necessidade de se mostrar como vítima é o argumento dos vilões que só são heróis na própria cabeça. Partindo definitivamente para os finalmente, o desfecho do pleito presidencial dos Estados Unidos está desenhado nas estrelas. Referendado por Allan Lichtman, conhecido como o profeta norte-americano das eleições, o resultado é Kamala Harris na cabeça, no lombo e no rabicó do filho do demo travestido de santinho do pau oco. Para quem já previu corretamente o vencedor de nove das últimas dez eleições americanas, incluindo a de Donald Trump em 2016, Kamala é pule de dez. Ou de mil?
Resta ao magnata sem poder o esperneio de sempre. Em sua rede social, o desesperado candidato recomeçou a ladainha. Insistindo em afirmar, sem prova alguma, que as eleições perdidas para Joe Biden foram fraudadas, ele agora ameaça prender adversários democratas caso vença a disputa presidencial. Como as cobras não merecem perdão nem no túmulo, certamente perderá novamente. E, se ele estivesse no páreo, ocorreria o mesmo com o discípulo tupiniquim. Tal pai, tal filho. Lá como cá, falta discurso proativo e propostas de debates sérios e palpáveis. Xingar, satanizar e esculhambar juristas ou adversários políticos em avenidas públicas não gera benefício algum àqueles que vivem de simbolismos e de comícios pífios e para os mesmos.
Desmentidos por fatos inquestionáveis, tanto o de lá quanto o de cá vivem nas sombras contestando o incontestável. Chovem no molhado como se quisessem escoar para os ralos as bestialidades que produziram. Não conseguiram e jamais conseguirão. O que está feito é inapagável. Os cacos pontiagudos de 2020 nos EUA e de 2022 e 2023 no Brasil se espalharam pelo caminho e feriram a Deus e ao Diabo. É claro que ainda não temos o que merecemos, mas dos males o melhor que o tragicômico momento nos oferece é o que está posto. Embora saibamos que na história não existem heróis nem vilões absolutos, disso não sairemos tão cedo. Depois de todos os vacilos políticos, Donald Trump acena para o bilionário Elon Musk, a quem ofereceu assento na Casa Branca em um improvável retorno.
Fracassado na vilania olímpica do poder, o candidato republicano de ações e gestos nada republicanos também contraria todas as teorias dos opostos. A exemplo do pupilo tropical, sua aproximação com Musk é a prova de que os loucos, desvairados, ambiciosos, imperialistas e os de inteligência artificial é que normalmente se atraem. Cientificamente, é tudo culpa do disparo de uma série de neurotransmissores misturados com doses cavalares de hormônios. É essa produção fora da curva que gera a sensação de o ser humano ter o corpo e a mente fora de controle. É essa sensação miraculosa que talvez explique a necessidade de centenas de brasileiros saírem às ruas para defender a anistia para os que quase destruíram o país. Pelo menos nos Estados Unidos, os ultradireitistas não tergiversaram e aceitaram o xilindró como qualquer fora da lei.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978