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Ministro cego

Cadáver no golpe frustrado mataria negacionismo de Kássio?

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Arimathéa Martins - Foto Felipe Sampaio/STF

Em qualquer lugar do mundo, os mestres, mitos, criadores e criaturas são passageiros. As instituições, ao contrário, são eternas, assim como tudo que nela se produz. No Brasil, não é diferente. Indicados para o Supremo Tribunal Federal ou para os demais tribunais superiores, os escolhidos serão ministros enquanto vivos forem.

O cargo é vitalício e independe do seu patrocinador, principalmente se este não tiver sido reeleito, esteja inelegível, abandonou a vida pública e se encontre cada vez mais longe dos holofotes. Aliás, cobrar votos favoráveis em troca de uma indicação infinita é um crime contra a sociedade.

Aceitar a cobrança é descumprir o sacerdócio jurídico. No português ortodoxo, é um crime contra a própria história. Ou seja, buscar argumentos ou fundamentos arcaicos somente para agradar o artífice de sua posição não é justo com o contribuinte, tampouco com as vítimas do processo.

Pior é ser precedido e sucedido por colegas menos subservientes. Subserviência pode não ser demérito, mas é feio em todo tipo de profissão, particularmente naquelas em que o cidadão está em jogo.

Não ver crime nas invasões das dependências do Supremo, do Congresso e do Palácio do Planalto, ocorridas no fatídico 8 de janeiro, é o mesmo que, mesmo em um Estado laico, não reconhecer como lógica a existência de um ser supremo e superior ao homem.

Obviamente que, por conta de sua vinculação ideológica, o ministro Nunes Marques não viu intenção do golpista Aécio Costa – certamente não verá nos demais – de tentar abolir com violência o Estado de Direito, também chamado de levante.

Acho que para ele e seus assessores, os verdadeiros produtores do voto lido em plenário, faltou um cadáver pomposo e referendado pelo sufrágio ou pela vitaliciedade. Para sorte do ministro, dos colegas, dos senadores, deputados e do presidente da República, a data escolhida para a barbárie caiu em um domingo, dia de folga para os mais nobres.

Não fosse assim, certamente uma (ou várias de suas excelências) teria sido vítima das brincadeirinhas do “grupo difuso” de manifestantes, entre eles motoboys, ambulantes, entregadores, prestadores de pequenos serviços, aposentados e donas de casa.

Conheço centenas, milhares, milhões de pessoas com esse perfil que jamais se prestariam a esse papel. Que me perdoem os baba-ovos dos ditadores, do negacionismo, do golpismo e do bolsonarismo fajuto, mas improvável que prospere a tese divergente do representante do mito no STF. Por mais que os cegos patriotas não tenham enxergado crimes contra a democracia, o dia 8 de janeiro está bem vivo na memória dos ministros que restam votar.

A tendência é que eles apertem mais ou, no mínimo, mantenham o sarrafo na altura recomendada por Alexandre de Moraes para o primeiro réu da barbárie contra os poderes da República. Os cabelos em pé de Xandão indicam que o fim dos 1,3 mil golpistas não será diferente. O ministro Alexandre deu o nó acima do 17. Quem dá mais? Aguardemos.

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