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Café, almoço e janta; vem aí mais inclusão social

Carolina Paiva

Um aluno membro do programa de assistência estudantil faz suas refeições de graça na UnB. Os estrangeiros desembolsam 1 real. Os de graduação, pós-graduação e servidores, pagam 2 reais e 50 centavos.

Na Esplanada dos Ministérios, há servidores que pagam 10 reais e 99 centavos por um quilo de um lauto almoço, com direito a três tipos de carne, saladas de verduras e legumes, e 500 ml de suco.

Como o consumo varia entre 400 e 500 gramas, por esses 10,99 dá para levar a quentinha do jantar (embrulha aí pro Floflô, diria uma beldade referindo-se a um suposto cachorrinho cheio de pompons). Ou seja, por menos de 11 reais, tem servidor público almoçando e jantando.

Comecei a pensar nisso – eu mesma frequentadora desses ambientes, na correria da vida de repórter – quando recebi uma pauta da Chefia de Redação. O tema é o mais recente decreto de Rodrigo Rollemberg, instituindo o café da manhã no Restaurante Comunitário do Sol Nascente.

O Sol Nascente, para quem não sabe, é a maior favela da América Latina, título que arrematou da Rocinha, no Rio de Janeiro, com seus mais de 80 mil habitantes. É uma espécie de apêndice de Ceilândia, a ser não extirpado, mas sim transformado, para que o morador da região possa bater no peito com orgulho e afirmar que está a caminho da cidadania.

Turma do contra – Mas – e é aí que reside um problema grave – em meio aos cofres vazios do Palácio do Buriti, há categorias de servidores que pregam o esvaziamento dos programas sociais – como o que garante uma refeição mínima a preço irrisório a quem por ela não pode pagar –, para que suas reivindicações de reajustes salariais sejam atendidas.

No Sol Nascente não há saneamento básico. Os dejetos dos esgotos correm a céu aberto. Não se lava roupa todo dia, como também não se toma mais que um banho por dia, pois o abastecimento de água é precário. Mas comida, ah!, essa não falta. O governo quer, pode e garante a alimentação deste substrato da sociedade, bem abaixo da linha da pobreza.

Em 13 restaurantes comunitários espalhados pelas cidades-administrativas de Brasília, são servidos almoços ao preço de 1 real para os inscritos no Cadastro Único e para aqueles com renda familiar de até três salários mínimos. Quem ganha um pouco mais, paga um pouco mais pelo almoço – dois reais.

Em um desses restaurantes – justamente o do Sol Nascente –, será abrigada uma experiência com total torcida de sucesso. É o café da manhã, a preço de 50 centavos. O cardápio constará de frutas da estação, leite, café, manteiga, pão. E quiçá queijo. O lançamento não tem data definida, mas será no comecinho de novembro.

O ideal é que se inaugure no dia 1, para que no dia 2 – pasmem! – não se ouça a tradicional frase ‘estou morto de fome’. O próximo passo, avalia o Palácio do Buriti, será o fornecimento de jantar, também a 50 centavos.

Barriga cheia – Se a iniciativa der certo, revela Gutemberg Gomes, o projeto será levado paulatinamente aos demais restaurantes comunitários. É uma proposta que precisa de muito fôlego, admite. Mas, se ele tem pulmão para cuidar das áreas de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, é a pessoa certa para afastar eventuais pedras quer apareçam pelo caminho.

E garante o secretário, sem meias palavras: “Estamos planejando um café da manhã para melhor servir à comunidade.”

A recomendação da Chefia de Redação para a produção dessa matéria foi de isenção total. Mas, como ser isenta, quando sei que na UnB o almoço é de graça para quem deixa estacionado no campus os seus Camaro amarelos, brancos, vermelhos, pretos. E Mercedes, Volvo, Ferrari e Porsche das mais variadas matizes. Na Esplanada, só carro do ano, que custam mais do que o suficiente para erguer duas ou três casas para quem não tem onde morar.

Às vezes me pergunto se não seria o caso de jogar o capitalismo contra a parede e abraçar um socialismo, por moderado que seja.

Por fim, a questão do reajuste dos servidores públicos. Isso é algo a ser discutido com Rodrigo Rollemberg e as categorias que reivindicam seus direitos. Mas, a título de sugestão, é bom deixar claro que o dinheiro do pão, do feijão e da sopa para quem precisa, não tem preço. E para aqueles que em dia ensolarado vão trabalhar de Harley Davidson, deixando um Toyota na garagem, resta dizer que chorar de barriga cheia, não vale.

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