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Dono da banca

Calixto e Matilda se aproximam em meio a briga alheia

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto de Arquivo/Reprodução Pixabay

Calixto era muito conhecido no bairro, já que há quase duas décadas era o dono de uma das poucas bancas de jornal do local. É verdade que havia outras duas ou três, mas nenhuma vendia empadinhas de cabeça de camarão tão saborosas. Uma iguaria à parte, vendida por cinco reais ou, não raro, dada como brinde a algum freguês que gastasse bem além do usual.

O homem, apesar de afirmar categoricamente que tinha exato 1,60 m, não passava de 1,55, já contando as palmilhas especiais e os saltos em dobro dos sapatos pretos caprichosamente engraxados. Empertigava-se todo, mas a barriga proeminente não o permitia fazê-lo por mais que um ou dois minutos, quando muito. O boné do Internacional completava o quadro, que, provavelmente, agradaria Fernando Botero.

Um dos clientes mais assíduos era o Paulino, um senhor de lá seus 70 ou mais. Costumava dar o ar da graça no final da tarde, quando o movimento na banca já havia diminuído. Ia pegar a sua encomenda, que era o jornal do dia anterior. Esse hábito poderia parecer estranho para a maioria, mas era logo explicado pelo velho. Cardíaco que era, não queria desafiar o coração com notícias frescas.

Gorgonzola era outro freguês que passava quase diariamente no local, geralmente para comprar jornal e um bocado de balinhas. Chamava-se Alberto, mas ganhou a alcunha por conta do cheiro desagradável expelido pelos pés, a despeito da quantidade quase infinita de produtos que já havia usado para tentar resolver o inconveniente.

Dona Matilda, uma mulher enorme em todos os sentidos, passava de vez em quando pela banca. Falava mais que a própria língua, mas sempre com um largo sorriso no rosto. Era apaixonada pelo Calixto, mas não havia se declarado, pelo menos não explicitamente. Talvez o homem fosse como tantos outros, ou seja, precisava de um empurrãozinho para perceber.

Pois bem, lá estava o Calixto com aquela mulher apaixonada. Os dois conversavam trivialidades, quando, então, passaram dois homens discutindo. Não demorou, começaram a trocar sopapos bem em frente à banca. Rolaram no chão, como meninos em barranco. Isso foi a deixa para que Dona Matilda e Calixto tivessem um pequeno interlúdio.

– Já brigou, Calixto?

– Capaz! Sou baixinho, gordinho e diabético. Se eu brigar, morro sem precisar tomar um soco. Caio duro só no afã.

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