Celso Lungaretti
Antigamente eram os ladrões que agiam na calada da noite. Agora são os deputados federais.
Na calada da noite eles mutilaram e desfiguraram o pacote anticorrupção que haviam acabado de aprovar, não só subtraindo o que continha de mais necessário para o atingimento de seus objetivos, como também enxertando-lhe uma clara tentativa de intimidar promotores e juízes da Operação Lava-Jato.
Já o presidente do Senado, Renan Calheiros, não agiu na calada da noite e se deu mal.
Assim que recebeu o mostrengo da Câmara, ele tentou colocá-lo imediatamente em votação, mas seu requerimento de urgência foi derrotado por 44 x 14 na votação em plenário.
O desfecho foi influenciado pelo receio que a maioria dos senadores teve, de ficar com o nome associado a manobra tão vergonhosa; pela firme reação dos procuradores da Lava-Jato, que ameaçaram afastar-se da operação caso os mãos-sujas ganhassem a parada; e
por um posicionamento exemplar da presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia.
Ela divulgou nota lamentando que, “em oportunidade de avanço legislativo para a defesa da ética pública, inclua-se, em proposta legislativa de iniciativa popular, texto que pode contrariar a independência do Poder Judiciário”.
E foi além, batendo pesado:
“O Judiciário é, por imposição constitucional, guarda da Constituição e garantidor da democracia. O Judiciário brasileiro vem cumprindo o seu papel. Já se cassaram magistrados em tempos mais tristes. Pode-se tentar calar o juiz, mas nunca se conseguiu, nem se conseguirá, calar a Justiça”.
Só restou a Renan Calheiros enfiar o rabo entre as pernas e conformar-se em cumprir à risca as várias etapas da tramitação desta matéria, começando por submetê-la a uma comissão especial.
Os encalacrados unidos têm tamanha paúra da megadelação da Odebrecht que tentam ganhar no grito, avançando ostensivamente o sinal. Por tal caminho não se salvarão, mas podem gerar um confronto de Poderes perigosíssimo para nossa frágil democracia.
Estão brincando com fogo e podem queimar a todos nós, brasileiros. Têm de ser contidos!