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Essas sogras...

Camilo, mestre-cuca ruim, faz batata em óleo velho

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/Tv Globo

Camilo, mal pôs os pés no chão gelado do quarto, logo se lembrou que a esposa não estaria em casa naquele dia. Ela havia viajado na noite anterior a trabalho e iria permanecer fora por alguns dias. Arrastou o corpanzil até a cozinha e soltou um bocejo que despertou o gato, que deu aquela esticada preguiçosa antes de tomar coragem e sair do cesto acolchoado para as necessidades.

O homem, que não suportava cozinhar, teria que fazer o almoço. Nada de comida sofisticada, mas crescera aos pés da mãe, que tudo fazia. Cresceu um tanto mais e se casou com Aurora, a quem conheceu ali mesmo naquela quadra. Chegaram até a brincar de queimada, garrafão e outras peraltices antes do primeiro beijo, que só aconteceu porque ela tomou a iniciativa.

Tiveram um par de filhos, que hoje não chegam a dez anos. Viviam até bem, caso não fosse pela rigidez de Serafina, a rigorosa mãe de Aurora. Sempre atenta a todos os detalhes, não poupava Camilo de uma bronca aqui, uma chamada de atenção ou até mesmo um puxão de orelha por qualquer descompostura.

Maria Luíza e Pedro tiveram que ser quase empurrados da cama, que parecia acolhê-los muito melhor que a escola. Pelo menos era o que os filhos do Camilo insistiam em sonhar, apesar do berro do pai

– Vamos que vamos sair dessa cama!

– Ah, pai, só mais cinco minutinhos.

– Anda, anda e não me aperreie! Hoje tô que tô uma pilha!

Depois do café da manhã preparado e devorado quase sem gosto, os rebentos rumaram para a escola-classe,na própria quadra. Enquanto isso, Camilo foi até a área verde da casa, onde tragou dois cigarros baratos. Voltou para a cozinha e tratou de descascar algumas batatas. Olhou para o lado e viu o gato esparramado no cesto, cabeça tombada, nariz quase encostado na cerâmica carcomida pelo tempo.

– Folgado!

Batatas depiladas, foi jogar as cascas ao pé da mangueira. Aproveitou e sacou mais um cigarro e tragou até a alma. O amargor na garganta o despertou para o horário. Quase meio-dia! Correu para a cozinha, tirou as panelas de arroz e de feijão da geladeira, quase ao mesmo tempo em que pegou a frigideira com óleo de uma semana ou mais. Fritou as batatas, requentou o punhado de arroz e feijão.

Sacudiu os farelos de pão da toalha da mesa, derramou os pratos e talheres. Não demorou, Maria Luíza e Pedro, esbaforidos, entraram em casa. Jogaram as mochilas sobre o sofá e correram para a cozinha. Famintos, mal conseguiram esperar que o pai os servisse.

Enquanto o homem despejava mais uma colherada de feijão no prato de Maria Luíza, eis que surge Serafina. Com o nariz apontado para o alto como um perdigueiro, a sogra de Camilo tentou farejar o aroma do ambiente. Enquanto isso, os netos e o genro, quase estáticos, a observavam. A velha afanou uma batata do prato de Pedro e a colocou na boca. Mastiga daqui, mastiga dali, encarou os três e, finalmente, a engoliu. Camilo, com a voz quase muda, arriscou uma pergunta.

– Gostou?

– É, até que ficou uma comida honesta.

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