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Caminho do portal para enfrentar medos ocultos e verdades não ditas

A floresta estava viva. O som das folhas sendo pisadas sob meus pés ecoava em meus ouvidos, como um tambor acelerado. Meu coração batia forte. Pulsando em sincronia com a adrenalina que corria em minhas veias. Eu precisava correr. Precisava escapar.

A trilha à minha frente se perdia entre árvores altas e densas. A luz do sol mal conseguia penetrar aquele manto verde. O ar era fresco, mas eu sentia o calor da ansiedade se acumulando em meu peito. Meus passos eram rápidos, apressados, e a respiração ofegante preenchia o silêncio da floresta.

Cortei uma curva abrupta e me deparei com um lago. A água era cristalina, refletindo a luz do sol como um espelho quebrado. Sem pensar duas vezes, tirei o tênis e pisei na margem, deixando que a água fria envolvesse meus pés. Um alívio momentâneo. Refrescante e harmonioso.

Ouvi o canto dos pássaros sobre as copas das árvores e por entre elas. Mas não podia parar. Algo me dizia para continuar. Uma sensação estranha me seguia, como se não estivesse sozinho ali. Olhei ao redor, mas as árvores permaneciam imóveis, como guardiãs silenciosas de segredos obscuros.

Senti um arrepio na nuca. Era como se mil olhos invisíveis estivessem sobre mim, observando cada movimento meu. A urgência retornou com força total; eu precisava sair dali.

Corri de volta pela trilha, os galhos arranhando meus braços enquanto avançava descontrolado. Cada passo era uma luta contra a crescente sensação de que algo me seguia na escuridão daquela floresta.

Então avistei uma cabana à distância. Pequena e desgastada pelo tempo, parecia um refúgio em meio ao caos que pulsava dentro de mim. Me aproximei cauteloso, a respiração ainda acelerava enquanto batia de leve na porta de madeira envelhecida.

A porta rangeu ao abrir-se, revelando um interior simples. A luz filtrada pelas janelas empoeiradas iluminava uma mesa rústica e algumas cadeiras desgastadas pelo uso. O cheiro de madeira e mofo invadiu minhas narinas; era acolhedor e assustador ao mesmo tempo.

Entrei, fechando a porta atrás de mim com um estalo suave que ecoou como um grito no silêncio opressivo da cabana. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração agitado. Olhei pela janela e vi as árvores balançando ao vento; elas pareciam dançar uma dança ancestral que eu não compreendia.

Sentei-me à mesa e deixei minha mente vagar por alguns instantes.

Lembrei-me do porquê daquela corrida: os problemas da vida na cidade, a pressão constante do trabalho e as expectativas que pesavam sobre mim como uma mochila cheia de pedras.

Mas ali, naquele espaço isolado, havia uma paz estranha que começava a me envolver. O som do vento nas folhas parecia sussurrar promessas de liberdade e renovação. Permiti-me relaxar por um momento, fechando os olhos e ouvindo apenas o ritmo do meu coração.

Então ouvi um barulho vindo do exterior – um estalo nítido de galhos quebrando sob o peso de algo… ou alguém? A tensão retornou instantânea; minha calma foi substituída por uma onda de medo.

Levantei-me e olhei pela janela de novo. O coração disparado no peito me fazia sentir como se estivesse prestes a explodir. Não havia ninguém à vista, apenas a floresta imperturbável lá fora.

Mas algo estava errado.

A sensação de ser observado havia voltado com mais intensidade do que antes. Eu podia sentir isso nas entranhas; uma presença invisível que pairava no ar pesado da cabana.

Corri até a porta e abri-a com força, saindo para o ar fresco da floresta. Mas agora tudo parecia diferente; as sombras dançavam mais intensamente entre as árvores, como se estivessem vivas.

E então eu vi: uma figura humana à distância, parada entre os troncos das árvores altas. Seu olhar fixo em mim era penetrante, quase hipnótico.

“Quem é você?” minha voz saiu trêmula, quase inaudível diante do rugido silencioso da floresta.

A figura não respondeu; apenas gesticulou levemente com a mão esquerda enquanto seu corpo permanecia imóvel como uma estátua feita de sombras.

Queria que eu me aproximasse. Não o fiz.

Naquele momento percebi que não estava correndo apenas para escapar dos meus problemas – estava correndo em direção a algo muito maior e desconhecido. A floresta não era apenas um lugar físico; era um portal para enfrentar medos ocultos e verdades não ditas.

Enquanto observava aquela figura enigmática se aproximando, compreendi que todo aquele caos emocional havia me levado até ali por um motivo: confrontar o que realmente significava estar perdido – tanto física quanto emocional.

E quando finalmente nossos olhares se cruzaram sob o dossel das árvores antigas, senti uma onda de compreensão passar entre nós; talvez não estivéssemos tão distantes assim um do outro e nem tão perto, ao mesmo tempo…

Não falamos nada.

Era hora de parar de correr e encarar a verdade que a floresta tentava me revelar.

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