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Candidatos de nomes chulos são piores do que o que o gato enterra

Uma das maiores ironias da vida, a política brasileira é decorrência direta de uma lastimável deformação na consciência coletiva de quem escolhe os seus – na verdade, os nossos – representantes nos parlamentos municipais, estaduais e federal. De acordo com o pensamento de Maquiavel, governar e legislar é se fazer acreditar. Também é de autoria do pensador italiano a tese de que a gente só descobre quem realmente é o homem quando lhe damos poder. Portanto, se beber, não vote neste domingo (6). E se votar, esconda a carteira, o número do PIX e as senhas bancárias. Se puder, não durma antes da próxima eleição.

Independentemente do grau de dependência ou do fervor do fanatismo, é fato que a insatisfação com os políticos é generalizada. Também é fato que o descontentamento é uma consequência da movimentação da placa tectônica de boa parte do eleitorado, o que, para um lado ou para o outro, resulta no voto cego. Para evitar que os efeitos tragam novos desprazeres ou decepções, sugiro que os eleitores aptos dos 5.570 municípios evitem depositar dissabores, ódios e cânceres ocultos nas urnas eletrônicas.

Para os que ainda estão formando opinião, vale a pena pesquisar os candidatos com um mínimo de seriedade. Livrem-se deles. Fujam daqueles que desrespeitam o eleitor antes mesmo de alcançar o objetivo. Boçais desprezíveis com propostas e nomes chulos não merecem votos. Esses devem ser tratados como estorvos, algo pior do que o que gato enterra. Como acreditar em alguém que acha divertido se apresentar para representar o povo de sua cidade com nomes escrotos como 100 Mizéria, Eulavo Pinto, Receba na Caixa dos Peitos, Leninha Delicinha, Pinto Louco, Eliseu Corno Bondoso, Amansa Corno e Thiago de Piroca, entre outros muito piores.

Há alguns apelidos que soam como mortalhas para candidatos natimortos. É o caso do prefeitável Chiquinho da Funerária. Ele morreu e não sabe. Talvez descubra quando receber a pá de cal do seu vice, Luiz Coveiro. Seria cômico não fosse trágico. Cada vez mais desacreditados, os aspirantes a políticos seguem o caminho dos que, sabe-se lá por que, disseram a seus apadrinhados municipais que é característica dos brasileiros a adoração pela irreverência, malandragem, descaramento e indecência.

Embora certos na essência, os homens públicos que pensam dessa forma erram – e feio – no quantitativo. É a prova do desconhecimento do povo, da falta de compromisso com a causa pública e, principalmente, do amadorismo político de expressiva parcela das supostas excelências. Com todo respeito às toupeiras, é comum esbarrarmos diariamente com diferentes familiares desses mamíferos subterrâneos nos corredores do Congresso Nacional, das câmaras municipais, prefeituras, assembleias legislativas e dos palácios estaduais e federal.

Se a ideia é brincar com o povo, escolheram o picadeiro errado. A palhaçada eleitoral provavelmente agradará àqueles que têm na cabeça o mesmo conteúdo da linha preta do camarão. Os demais, isto é, a maioria esmagadora quer saber de projetos e de boas ideias. Que os sem noção saibam que política não é um faz de conta. “Profissão” antiga e muito bem remunerada, ela requer coragem, caráter, humildade e, sobretudo, trabalho árduo dos que buscam o voto como forma de poder. Do alto de minha absoluta desilusão com os políticos, prefiro os ensinamentos de Machado de Assis, para quem “é difícil estar entre políticos muito tempo sem adquirir a febre que os devora”.

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