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Entrevista/Christopher Garman

Candidatos podem negar, mas reformas virão no próximo governo

Publicado

Autor/Imagem:
Luciana Dyniewicz

Com a corrida eleitoral indefinida, há quem questione se reformas estruturais – como a da Previdência – sairão do papel, dependendo do resultado das urnas. Para Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria de risco político Eurasia, no entanto, as reformas virão com qualquer vencedor. “O que está em jogo não é se vamos ter reforma, mas quão ampla ela será.”

As reformas não dependem, portanto, de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato preferido do mercado financeiro. Porém, o apoio do Centrão deu à candidatura tucana uma chance de sobrevivência. “Se o Centrão tivesse ido com o Ciro Gomes (PDT) ou rachado, teria criado uma dinâmica perversa de que a classe política tinha uma falta de confiança na campanha dele (Alckmin).”

Veja trechos da entrevista:

O mercado reagiu bem à notícia de apoio do Centrão ao Alckmin. Esse apoio partidário e o consequente tempo de TV podem alavancar sua candidatura?

Conseguir o apoio foi importante para ele, mas foi menos no sentido de alavancar e mais no de evitar um passo para trás. A campanha do Alckmin corria sério perigo. Estávamos enxergando uma crise de confiança entre os partidos que tradicionalmente seriam parceiros de Alckmin, que viam ele patinando nas pesquisas. Eles também estavam olhando Jair Bolsonaro e reconhecendo que era uma candidatura que dificilmente dava para trabalhar, dado que há promessa de cortar ministérios e nomear generais para gabinetes. Aí os partidos flertaram com Ciro. Se o Centrão tivesse ido com o Ciro ou rachado, teria criado uma dinâmica muito perversa de que a classe política tinha uma falta de confiança na campanha dele (Alckmin). Na medida em que Alckmin reverteu o quadro, evitou uma deterioração da qual a campanha esteve muito próxima. Agora, o tempo de TV o mantém no jogo.

E quais serão os desafios?

São dois desafios: Jair Bolsonaro (PSL) e Álvaro Dias (Podemos). Bolsonaro está na frente do Alckmin no Estado de São Paulo e o Álvaro Dias tem apoio no Sul. A pergunta é: tempo de TV é suficiente para derrubar Bolsonaro? Achamos que não. O perfil do Alckmin é difícil nessa disputa. Há um desencanto com lideranças políticas. O tema de corrupção virou muito importante. Mesmo que Alckmin se saia bem no quesito de experiência administrativa, ele se sai mal por ser visto como político tradicional. Mais importante que tempo de TV é quais candidatos se encaixam com o perfil da demanda. Hoje, Bolsonaro parece se encaixar.

A Eurasia dava 25% de chance de um reformista vencer as eleições. Esse apoio do Centrão muda a probabilidade?

Acho que não. A gente até havia diminuído essa probabilidade de 25% para 20% na expectativa de que Alckmin não teria apoio do Centrão. Hoje estamos com 20%, mas viés de alta.

Como fica o panorama para os outros candidatos?

Quem mais perde é o Ciro. Ele está numa posição muito vulnerável, porque tem base de apoio no Nordeste e, quando a candidatura do PT entrar em jogo, é o que tem mais a perder, porque está surfando nos eleitores do Lula. A chance que ele tinha era compensar essa vulnerabilidade com tempo de TV dos partidos do Centrão. Ele perdeu essa oportunidade.

Há informações de que, na negociação com Alckmin, uma alternativa para o financiamento de sindicatos chegou a ser demandada pelo Centrão. A reforma trabalhista está ameaçada?

Alguns ajustes devem ser feitos, mas acho difícil ter uma maioria no Congresso para rever os principais pontos. Os partidos de centro apoiaram a reforma. Se Alckmin for eleito, as principais vertentes da reforma devem ficar de pé.

A Eurasia aposta que as reformas vão continuar independentemente de quem ganhar. Isso vale também para o PT? O sr. já comentou que, se Lula indicar um nome, essa pessoa pode crescer rapidamente.

Mesmo com a candidatura do PT, se vingar, deve avançar alguma reforma. Lideranças do partido criticam a reforma desse governo, mas o custo de oportunidade de não fazer a reforma da Previdência é muito grande. No governo Dilma Rousseff, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa já estava formando uma proposta de reforma. De lá para cá, a situação fiscal se deteriorou ainda mais. Na nossa visão, o PT, chegando ao poder, vai colocar uma reforma na mesa, não tão ambiciosa como seria uma do Alckmin. A dificuldade do PT é que entraria um ambiente mais polarizado. Então a capacidade de construir uma coalizão no Congresso fica difícil. O que achamos é que o que está em jogo não é se vamos ter uma reforma, mas quão ampla ela será.

No caso de vitória do Bolsonaro, essa dificuldade no Congresso também pode ocorrer, não?

A diferença é se o PT entraria com uma reforma mais modesta de cara. O Bolsonaro talvez viesse com uma mais ambiciosa, mas a dificuldade é que ele entraria com uma reação mais conflituosa com o Congresso. O caminho seria mais tortuoso e polêmico, mas, mesmo assim, algum tipo de acordo acaba saindo.

Como deverão ser abordados temas como reforma previdenciária e ajuste fiscal na campanha?

O único candidato que detalhou a proposta da reforma da Previdência é o Ciro. Mas a narrativa política de conciliar uma reforma com a população contra a classe política é um ganho que o governo Temer está dando para os candidatos. Encontrou-se a narrativa da reforma, com um discurso de justiça social. Na campanha, talvez não haja detalhes de proposta, mas todos vão bater no combate aos privilégios.

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