O deputado federal José Antonio Reguffe, ao contrário do que muitos pensam, tem buscado incessantemente se viabilizar como candidato ao Buriti, no sopro sustentável da ex-quase-presidenciável Marina Silva. Com um repisado discurso ético, Reguffe parece ter de fato decidido não abandonar a vida pública, opção inúmeras vezes cogitada por ele, que se dizia então desgostoso da política em geral.
As costuras políticas que Reguffe tem empregado para pavimentar sua candidatura ao Buriti, em nenhum momento se distanciam das práticas eleitoreiras mais ortodoxas, a começar da própria negociação interna no seu PDT. O eventual entendimento entre Reguffe e Carlos Lupi, presidente nacional da sigla, é o sinal mais evidente que não exala nenhum perfume renovado na rosa vermelha plantada por Brizola, como tanto pretende transparecer a figura do jovem deputado Reguffe.
De pronto, carece uma explicação plausível a respeito da conflitante convivência pacífica e construtiva de interesses por vezes tão distintos, sem que para tanto não seja considerada a hipótese de encenação, na medida em que no plano local o PDT de Reguffe integra o 1º escalão do governo Agnelo Queiroz, ocupando a secretaria de Educação, com um dos quadros partidários mais ligados ao Senador Cristovam Buarque, o professor Marcelo Aguiar. No mínimo soa estranho o fato do PDT estar compondo o governo, e suas principais lideranças no DF, Reguffe e Cristovam se dizerem fora, assim como também afirmarem estarem fora do governo Dilma, mesmo sendo o seu partido donatário de um turbinado Ministério do Trabalho.
A construção das alianças em torno da candidatura de Reguffe pelo PDT, diferentemente das demais, nasce controversa. A insistência de Marina Silva em catapultá-lo com candidato das oposições, abre, num primeiro momento, um racha quase que imperceptível na construção da aliança entre o PSB e Rede, no entanto, pode vir a se transformar num grande rombo nas pretensões presidenciais de Eduardo Campos. A declaração explícita de Marina em favor de Reguffe, causou, de imediato, um desconforto com o Senador Rollemberg, que já manifestara oficialmente sua pré-candidatura pelo PSB, bem como perante o seu principal aliado, o PPS da deputada Eliana Pedrosa, também pré-candidata ao GDF. A forma impositiva de mostrar suas preferências revela uma Marina pouco disposta ao diálogo, tão necessário à ampliação do leque de apoios partidários para uma disputa majoritária.
A aproximação do deputado Reguffe com o tucanato de alta plumagem é natural, apesar de que o PSDB, como principal partido de oposição a Presidente Dilma, está em posição oposta a do seu governista PDT. Entretanto, as mesmas antigas relações profissionais e pessoais que aproximam Reguffe dos tucanos, podem causar desconfiança no pré-candidato à presidência pelo PSDB, Aécio Neves, na medida em que fragilizam a empunhadura da bandeira de uma novidade política diferente proposta por Neves, considerando que Reguffe já foi funcionário de confiança da Liderança do PSDB no Senado, na ocasião em que o ex-governador José Roberto Arruda era o líder e se viu envolvido no escândalo da violação do painel do senado durante o processo de cassação do ex-senador Luiz Estevão de Oliveira.
Imaginar a possibilidade de formação de uma aliança partidária em que o governista PDT assuma o papel de protagonista das oposições no DF é o mesmo que acreditar numa lenda de uma floresta distante. Pelo jeito, fica só na conta de Marina Silva a unanimidade da unção de Reguffe como candidato das oposições ao Buriti.
Por João Zisman, Guardian Notícias