Aconteceu em uma capital nordestina. Luciana, que precisou se fazer mulher antes dos 13 anos, suava por todos os poros para colocar comida na mesa. Sem conhecimento e cheia de inocência, foi ludibriada por Romão, homem feito, que prometeu proteção e conforto à garota. Bastava ser boazinha e seguir as instruções dadas.
— Lu, meu amor, faça assim, que vai ser sucesso. Mas aquilo é apenas para quem tem os bolsos estufados. E nada de fiado, pois a praça está abarrotada de maus pagadores.
Apesar da repulsa por certos clientes, Luciana não teve coragem de contrariar o namorado. E assim foi sobrevivendo com a promessa de dias melhores, até que, após beirar os 20 anos, viu-se desenganada. Todavia, para não criar pendenga com Romão, percebeu que havia criado uma muralha para impedir que qualquer sentimentalismo escorresse pela face já acostumada com safanões. Era sina e precisava aceitá-la.
No seu aniversário de 36 anos, Luciana, tarimbada que havia se tornado, possuía uma clientela satisfeita e fiel com os serviços prestados. De tão competente que era, a mulher, vez ou outra, despertava paixões arrebatadoras. O mais notório caso aconteceu com o Osvaldo, recém-casado, que queria largar a esposa para se entregar à luxúria nos braços da Luciana. Todavia, profissional que era, sabia muito bem separar as coisas e tratou logo de colocar algum juízo na cabeça do homem.
Se Luciana conseguiu salvar o casamento do cliente, não se podia dizer que sua vida era um mar de flores com Romão. É que o homem danou a beber e gastar além da conta. Não importava quanto dinheiro a mulher conseguia fazer, lá ia o cafetão torrar tudo. Era um saco sem fundo, tamanha a gastança do gajo.
Cansada daquela situação, Luciana, assim que retornou ao seu apartamento após uma noitada bastante movimentada, encontrou Romão esparramado no sofá. Várias latas de cerveja vazias ao lado e no tapete. De tão grogue, o homem apenas abriu os olhos e resmungou algo ininteligível. A mulher sacou um bolo de notas da bolsa, separou algumas cédulas graúdas e as atirou no rosto do sujeito.
— Romão, acabou a sopa de minhoca! Pegue as suas coisas e suma daqui!
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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