Desapego
Cansado da Esplanada, Jonas pede aposentadoria e parte para a praia
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emAndo desapegado de tudo. Aliás, tudo é muita coisa. Diria que a vaidade não reside há tempos por aqui e, assim que ela foi desalojada, carregou certezas que me acompanharam por décadas.
Aos 23 anos, entrei no serviço público, onde permaneci por quase 40 anos. Não que eu não pudesse me aposentar antes, mas levei muito tempo para perceber que havia me tornado escravo do dinheiro. E, por mais que eu ganhasse por conta das horas extras, mais e mais me embrenhava em dívidas decorrentes de compras desnecessárias. Fúteis, na verdade, já que consumia sem sentir nada além do que prazeres efêmeros.
Decidido, acordei naquela segunda-feira e fui direto ao RH.
— Cansei.
— Como assim, Jonas?
— Quero me aposentar.
— Mas você é tão novo.
— Novo? Novo pra quê?
— Pra deixar de trabalhar.
Não quis prolongar aquela discussão sem sentido e, então, assinei toda papelada para, finalmente, buscar as minhas importâncias. Se fiquei com medo? Um pouco, mas a liberdade assusta, ainda mais para quem estava acostumado a grades.
Meu velho carro está encostado na garagem. Sei que ainda funciona, mas deixou de se encaixar no estilo de vida que adotei. Não pense você que pretendo comprar um modelo novo. Talvez uma bicicleta ou, então, continuarei a minha jornada a pé.
Não desejo badalações, não sou afeito a extravagâncias, que parecem fetiches de tanta gente. Quero apenas uma cadeira confortável para que eu possa me sentar diante do mar enquanto leio mais um livro. Se a cadeira me faltar, não tem problema, sento na areia.
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