Lenda urbana
Cansados do velho samba de uma nota só, os ‘patriotas’ deixam Jair Bolsonaro… só

Para quem sempre falou em público de milhões, reunir cerca de 45 mil pessoas em mais um ato em favor da anistia aos vândalos do 8 de janeiro de 2023 é muito pouco para quem, além de querer demonstrar força política, pensa em reverter um processo cujo desfecho só depende de cinco marteladas. Regada a discursos repetitivos de bajuladores oficiais, entre eles governadores da direita festiva e o ator sem palco Silas Malafaia, a manifestação desse domingo (06) na Avenida Paulista valeu pela comprovação de que a multidão esperada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro está cansada do samba de uma nota só.
Os veículos da comunicação bolsonarista até tentaram catapultar o número de participantes medido pela Polícia Militar, pelo Datafolha e por monitores da Universidade de São Paulo. Tentaram, mas ficaram pelo caminho. Ou seja, a estimativa acima dos limites permitidos pelo bom senso não conseguiu ser mais fiel do que os olhos de quem não tem necessidade de bajular o “imbajulável”. De triste confirmação, os últimos atos de Jair Bolsonaro tumultuam parte das grandes ruas e avenidas do Rio e de São Paulo, reúnem alguns farofeiros sem ambiente em casa e talvez sirvam para aumentar o quantitativo de fiéis para a igreja de Malafaia. Nada mais do que isso.
Na verdade, se há algum beneficiado com a histérica gritaria dos manifestantes que ainda acreditam em duendes e fadas madrinhas, não é Bolsonaro, tampouco um de seus familiares ávidos pelo poder. No máximo, os governadores que lá estiveram a pretexto de cultuar um mito prestes a ser recolhido às masmorras eletrificadas, com muros altos e sem sol. Se os aliados, seguidores e aduladores remunerados do falido bolsonarismo acham que amedrontam Alexandre de Moraes e os outros quatro ministros da Primeira Turma do STF, estão perdendo tempo, lábia e dinheiro. No inglês aportuguesado de Bolsonaro, Eu like pode ser facilmente substituído por Eu sifu.
Alguém precisa ter coragem para dizer ao ex-presidente que não há hipótese de reversão no julgamento do Supremo. É bom lembrá-lo também que 56% dos brasileiros são a favor de manter os golpistas desocupados presos. Portanto, se ele sonha com a anistia para se autoincluir na lista de anistiados, é bom que tire o cavalinho chucro da Praça dos Três Poderes. Essa é só mais uma marmota dos deputados, senadores e, principalmente, dos governadores que se utilizam política e eleitoralmente do restinho de prestígio de quem eles ainda chamam de líder. Até quando?
Não tenho prazer nenhum em afirmar que Bolsonaro hoje não passa de uma daquelas lendas urbanas em que ninguém jamais acreditou. Ele faz parte de um passado que, se depender da maioria do povo brasileiro, está definitivamente enterrado. E não volta mais exclusivamente por culpa dele e de seus gestos, pensamentos, ações e decisões. Bolsonaro não sabe ou finge não saber, em português e em inglês, mas, muito mais do que manifestações chatas, cansativas, impopulares e sacais, é insistir na tese de perseguição e subir em trios elétricos para gritar contra cumpridores de leis, xingar adversários, desqualificar autoridades e demonizar os que defendem a democracia.
O Brasil sério, do bem, da paz e da liberdade não aguenta mais esse tipo com ares de bedel poliglota de curso por correspondência. Os verdadeiros patriotas são úteis à pátria. Façamos uma linha do tempo e perceberemos sua ampla inutilidade. Meu caro cidadão, se puder repense sua trajetória política, seja realmente um patriota e volte quando for capaz de reconhecer que no Brasil de hoje não existem mais capachos. Se recolha ao momento de insignificância, trabalhe mais pelo país e aguarde uma nova oportunidade com a serenidade dos nobres. Está claro que o povo ordeiro não aceita mais gritos, palavrões, muito menos meganhas estrelados e loucos pelo poder.
………………..
Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
