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Voo cego

Capitão, capitão, cuidado… (o resto é mera semelhança)

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Foto Produção Irene Araújo

– CAPITÃO, não há condições de pouso.

– Pô, cara, larga a mão de covardia…desce esse treco aí…

– Não enxergo nada. A fumaça não oferece segurança, SENHOR!

– Como não? E os instrumentos? Não estão funcionando, cacete?

– Funcionam, mas a pista é péssima e tá tudo queimando lá embaixo, meu CAPITÃO!

– FOGO? Onde, cara? Nada… Tô vendo um monte de barcos no rio grande… Olha lá, pô…lindo!

– Não são barcos…são bois mortos, boiando, SENHOR!

– Tá loco, cara?!…olha as árvores…milhares de pés de tangerina madurinhas, amarelinhas!

– SENHOR, são árvores pegando fogo, meu CAPITÃO!

– O MOCUREBA! Tá delirando? Fumou cigarrinho de comunista? Olha que céu de brigadeiro, covardão… Desce essa merda logo!

– Perdão, SENHOR, mas é fogo…tá um céu de goiabada…vermelho! O risco é grande, CAPITÃO!

– PORRA, IMBECIL…dá um jeito aí! a… A merda da imprensa tá lá embaixo. Desce essa coisa de uma vez!….

– Vamos subir…subir, SENHOR! Subirrr….

– CALA A BOCA! DESCE, MAJOR! TÔ MANDANDO!…Lá embaixo a gente toma uma Tubaína pra comemorar, tá?

– Em 5, SENHOR…1, 2, 3, 4…. ARREMETENDO, meu CAPITÃO!

Vinte minutos após, a aeronave tocou o chão da pista chamuscada e o capitão fala à imprensa:

– Tinha umas fogueirinhas, mas todo ano tem…quer saber? E daí, pô? NÓS SOMOS UM EXEMPLO PARA O MUNDO.

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