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Caravana de Lula segue caminho entre cães que ladram

Salvador (BA), 02.07.2023 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, comemoram a Independência da Bahia com a caminhada do Dois de Julho. Largo da Soledade, Salvador - BA. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Do alto de minha ojeriza pelo nome de um e da simpatia pela história do outro, costumo definir a trajetória política de determinados homens públicos lembrando do provérbio de um colunista social dos anos 60 e 70: “Os cães ladram e a caravana passa”. Obviamente que me refiro ao que saiu pela porta dos fundos e àquele que, pela terceira vez, ocupa o Palácio o Palácio, alcançando o gabinete pela rampa principal e com pompa de estadista. Acho até que ambos fazem jus ao aforismo criado por Friedrich Nietzsche, para quem “um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”. Entretanto, um deles sabe perder e nunca tentou convencer sua militância de que o melhor caminho para a derrota é a morte do adversário.

Embora já meio esquecida pelo decurso de tempo e, portanto, desconhecida da maioria dos jovens de hoje, a expressão “Os cães ladram e a caravana passa” tornou-se famosa na voz e na escrita de Ibrahim Sued, colunista social que, ao terminar suas crônicas ou textos narrados, citava o ditado de origem árabe, terminando sempre com o citado bordão. A expressão significa que, políticos ou não, devemos ignorar as provocações que possam impedir o progresso e esquecer críticas que não sejam construtivas. É o que o governo petista está fazendo com os lacaios do moribundo e insepulto patriotismo de araque. Ou seja, nada irá impedir que a caravana siga seu caminho.

A premissa a ser seguida é simples. Quem tem futuro é verbo. Por isso, devemos viver o presente. E, gostem ou não, o presente do Brasil é sinônimo de Lula da Silva. Pode não ser o ideal, mas foi o escolhido pela maioria dos eleitores em outubro passado. Portanto, passou da hora de esquecermos o radicalismo político. O povo não aguenta mais a babaquice golpista de meia dúzia de arrogantes seguidores do mito fajuto, incluindo parlamentares eleitos exclusivamente para votar contra Lula, consequentemente contra o país. Como disse recentemente o experiente Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, as eleições já ocorreram e os vitoriosos estão no poder. Então, por que não se calam?

As urnas foram fechadas. O bom senso determina que Legislativo e Executivo voltem os olhos para o povo brasileiro, sob pena de todos acabarmos no buraco. Monsieur & Madame Butterfly perderam o posto, hoje ocupado legal e popularmente pelo Marquês de Garanhuns & Madame Janja. Não há hipótese de retorno por agora. Nem em 2026. Talvez nem em 2030. Provavelmente, nunca mais. Sem entrar no mérito do merecimento, sonhos foram feitos para realizar. E, após a catástrofe de um governo que não governou, a sociedade resolveu sonhar um sonho que já havia sonhado. Entre a cobra cascavel e o sapo barbudo, deu o 13 na cabeça.

Os cães ainda ladram, mas a caravana não toma conhecimento dos latidos roucos e continua sua caminhada para quem sabe uma quarta encarnação. Sou adepto da alternância de poder, mas, entre admitir novos aventureiros, o melhor é nos acostumarmos com quem entende do riscado. Com certeza, pior do que estava não fica. Pelo contrário, ainda que seja somente simpatizante do petismo, impossível não reconhecer que, em apenas seis meses de administração, Luiz Inácio elevou o sarrafo da gestão a níveis que só haviam sido experimentados no primeiro governo do próprio Lula.

Resumindo, “nessa vida tudo passa, e você também passou”. Com todas as letras, o recado do povo foi claro: “Não dá para aceitar o que não tem medida, nem nunca terá”. “Os cães podem latir para qualquer coisa, inclusive para destilar ódio, como ocorre atualmente. Eles vão ladrar quando a caravana passar, mas o som da esperança certamente vai abafar toda a balbúrdia matilha. Canta, canta, minha gente e deixa a tristeza pra lá. Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar”. “E por falar em saudade, onde anda você?”.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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