Em uma cidade violenta como o Rio de Janeiro, o uso da tecnologia como proteção se dissemina por todas as classes sociais. Virou hábito, por exemplo, para o engenheiro belga Jean-Louis Beeckmans, de 34 anos, morador de Ipanema, e para A., de 45 anos, que vive na Rocinha. Os dois moradores da zona sul não se conhecem, mas usaram a internet para driblar a explosão de crimes que tem marcado 2017 no Estado em crise.
Beeckmans recorreu ao aplicativo Onde Tem Tiroteio (OTT) quando seus pais foram visitá-lo no Rio. Preocupava-se com a segurança deles na cidade desconhecida e marcada pelo crime. Queria advertir sobre quais locais evitar para voltarem ilesos para a Europa. “Eu tenho cara de gringo, mas a deles grita: ‘Somos gringos!'”, conta Beeckmans. “Eu não queria que nada de ruim acontecesse com eles, apenas que aproveitassem as belezas da cidade.”
O belga – que já foi assaltado duas vezes no Rio e teve até arma apontada para a cabeça – também costuma avisar à namorada, a brasileira Isabela Vieira da Cunha, de 32 anos, dos incidentes violentos que vê no aplicativo. Mas reconhece que ela “não gosta muito” desse hábito. “Ele fica monitorando e me comunica quando está tendo algum tiroteio nos lugares onde estou”, conta a publicitária.
“A violência é um problema enorme, claro, mas não acredito que a melhor forma de lidar com ela seja acompanhando todo tipo de notícia, deixando de fazer as coisas, deixando de sair de casa. O medo não pode nos paralisar”, ressaltou.
Rocinha – Também A. incorporou a seu cotidiano o aplicativo, além de outras fontes de informação sobre segurança disponíveis na internet. Ela se preocupa com os caminhos mais seguros para as duas filhas adolescentes saírem da casa, no alto da Rocinha.
A comunidade registra há mais de um mês confrontos entre bandos rivais de traficantes. “Não posso deixar de sair de casa, mas é bom ter uma noção de onde a confusão está acontecendo para saber por onde descer”, conta A. “Uso o app e as páginas da própria comunidade, onde sempre tem muita informação.”