Carlos Lyra canta e faz paulistano matar saudades da bossa nova nos 462 anos
Publicado
emPedro Antunes e Julio Maria
Não há o som das ondas do mar, nem brisa marinha. Não temos Ipanema, Copacabana, Leblon e por aí vai. Há cimento demais, carros demais, edifícios altos o suficiente para esconder a luz do sol. Carlos Lyra, figura das mais importantes para a criação da bossa nova, contudo, trouxe um pouco do Rio de Janeiro para o aniversário prolongado de 462 anos de São Paulo no início da noite deste sábado, 23.
Companheiro de grandes, gravado por João Gilberto no seminal disco Chega de Saudade (1959), por exemplo, Lyra se apresentou em formato diferente daquele com o qual ele (e o público) está acostumado. Na Galeria Olido, localizada no centro velho da cidade, o botafoguense não tinha seu violão consigo – instrumento que o acompanha desde a adolescência. Explica ao público, que não chega a lotar a casa de espetáculos, que rompeu os ligamentos do ombro e está impossibilitado de tocar. Trouxe um maestro ao piano para acompanhá-lo.
Sua bossa, com isso, teve mais solenidade e garbo. Sentado em uma cadeira alta na beirada do palco, Lyra conta e canta. É a síntese desse show Eu e a Bossa, escolhido para essa festa estendida por diferentes pontos da cidade, com apresentações e performances gratuitas: o musico não se prende às canções em si, mas desfila histórias ótimas do convívio com outros gênios como Geraldo Vandré, Ronaldo Bôscoli e, claro, seu maior parceiro Vinícius de Moraes. “Vinicius falava tudo no diminutivo. Chamava-me de ‘parceirinho’. Pedia para eu registrar ‘minhas musiquinhas em um gravadorzinho e, em uma semaninha, ele entregava as letrinhas’. E era assim que funcionávamos”
Enquanto o centro da cidade vai, aos poucos, diminuindo a pulsação com o fim do sábado, Lyra canta amores e desamores, acompanhado por sussurros do público que compareceu à apresentação gratuita. Pérolas como Minha Namorada, Quando Chegares, Maria Ninguém, transformam o cenário tão paulistano em algo levemente carioca – se alguém fechasse os olhos ali, podia dizer que ouviu o sussurrar do mar ao fundo.
O sábado apenas deu início às comemorações do aniversário da cidade com duração de três dias – quase como versão estendida da Virada Cultural, com atrações gratuitas espalhadas pela capital. Se havia o frescor carioca pelo centro neste sábado, 23, é o carnaval baiano que percorre a cidade neste domingo, 24. Daniela Mercury percorrerá as ruas paulistanas a partir das 15h30, com um trio elétrico tal qual aqueles que percorrem Salvador durante os dias de carnaval. Ela promete um set variado, diversificado, do axé ao, veja só, rock.
A festa culmina com o grande enceramento de Gilberto Gil, na tarde de segunda-feira, 25, no Centro Esportivo de Lazer Tietê (Avenida Santos Dumont, 843). Depois de uma abertura do grupo Demônios da Garoa, às 16h, com participações de Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Ogi, Gil aparece fazendo em um formato que há muito não mostra aos paulistanos – desde justamente uma Virada Cultural, quando ele também encerrou o evento no ano de 2012.