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A presidente

Cármen Lúcia, exemplo de servidora pública

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Luis Carlos Alcoforado

O Brasil vai conhecer um servidor público verdadeiramente cidadão que se preparou para servir ao país e o faz com a consciência de que, ao fazer sua opção profissional, se sujeitaria às condicionalidades relativas à função e ao cargo.

O servidor público deve ser austero, íntegro e cônscio de que somente pode almejar servir bem aos cidadãos sem deles se servir.

O público é seu senhor, destinatário do serviço prestado com qualidade.

Há bons e maus servidores públicos!

Às vezes, enxergamos apenas os maus, quando são castigados ou punidos, o que é raro na Administração pública brasileira.

Os bons servidores públicos, acreditem, existem, apenas não os conhecemos, salvo quando, ao precisarmos, nos surpreendemos com sua presteza e sua dedicação.

Temos mais surpresas quando deparamos com serviço público de qualidade do que quando sofremos com a desqualificação do serviço público.

No Brasil, a desqualificação do serviço público é uma constante, contumácia com que o cidadão finge se acostumar…mas sabe que o seu direito sofre violação, porque paga tributos para ter serviço de qualidade.

Aqui, vendem-se leis, sentenças e atos administrativos, o que comprova a degradação do serviço público, que se principia pelas manifestações e competências originais do Estado: legislar, julgar e executar.

Com a posse de Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal, a Justiça não vai ser mais justa, porque suas defectividades históricas, do tráfico de influência ao compadrio, não se curam ou não se vencem apenas com o personalismo de uma figura vocacionada a compreender o universo público, mas o Poder Judiciário caminhará por novas sendas e distribuirá novos valores que se infiltrarão na consciência de melhorar a eficiência de suas funções.

Menos festas e mais justiça, para aqueles que foram eternamente esquecidos pelo sistema de distribuir direitos e deveres entre os citadinos.

Cármen Lúcia conhece a justiça brasileira, marcadamente pelo altíssimo grau de infidelidade aos princípios rotores e cardeais do sistema jurídico, das masmorras prisionais às discriminações de toda ordem, do status político, da raça ao sexismo.

A ministra Cármen Lúcia parece seu povo, cujas aflições são divididas como suas preocupações mais caras.

Há algo novo no poder, no cerne do Poder Judiciário, o que é benfazejo para uma nação que consome, silenciosamente, seus fracassos, sem que sobrevenha reação contra os excessos dos poderosos do setor público, que se consideram demiurgos.

Cármen, como a cigana de Bizet, tem a força da coragem, para desafiar um modelo de poder que se apropria de tudo, sem constrangimento.

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