Ainda me lembro de quando passava meus dias de menino no sítio do tio Joca, em Carolina, no Maranhão. Após tantos anos, eis que aqui estou defronte daquele largo e profundo rio que banhou minha infância e, para meu espanto, deparo-me com um riacho. Para onde teria ido aquela enormidade de água?
— Mas, Cássio, é o mesmo córrego – tio Joca tenta me convencer.
Incrédulo, olho ao redor. Até as árvores não me parecem tão grandes. Nem mesmo o jequitibá logo adiante. Tudo parece querer me impor uma realidade que não é a que guardo na memória. Teimoso que sou, fecho os olhos e volto a ouvir o som da correnteza, enquanto meus pés, agora novamente descalços, correm pela sua margem.
Cato uma pedra lisa e a arremesso. Ela, quase disco voador, rente à superfície, toca a água uma, duas, três, quatro vezes, até que, lá bem no fundo daquela imensidão, se torna submarino. Ao seu redor, piabas se fazem de tubarão.
Ouço o ronco de um bugio. Viro o rosto e meus olhos de menino avistam um enorme gorila no topo da árvore logo atrás. Magnífico, magnânimo. Nem os macacos-prego adiante podem com ele. Assustados, fogem saltando de galho em galho, até se perderem na vastidão da floresta.
— Cássio?
— O quê, tio?
— Você está bem?
— Sim.
— Já te chamei três vezes.
— Desculpe.
— Vamos, que já estou sentindo o cheiro do almoço daqui.
Acompanho meu tio, mas meu pensamento ainda está bem distante. Que saudade que sinto do menino que fui, repleto de imaginação.