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Carro elétrico é uma gota em um mar de emissões

Foto: Nilton Fukuda/EstadãoConteúdo

Quando falamos sobre salvar o planeta, um tema recorrente tem sido o dos veículos elétricos (EV), que, por serem elétricos, não emitem CO2 diretamente. Essa ideia parece extraordinária, mas muitas vezes nos deixamos levar mais pelo conceito do que pela realidade. No início da revolução dos EV, pensava-se que deixar de usar combustíveis fósseis reduziria significativamente as mudanças climáticas. No entanto, nos concentramos em desenvolver os veículos e esquecemos das infraestruturas necessárias para essa revolução.

Hoje em dia, os maiores emissores de CO2 não são os automóveis, mas os sistemas de geração de energia. Segundo relatórios do Global Carbon Project, China, Estados Unidos e Índia são os maiores emissores de CO2, gerando mais de um terço das emissões globais devido à produção de energia e aquecimento. Isso é notável quando consideramos que a frota automotiva global conta com 40 milhões de veículos elétricos em comparação com 1,5 bilhão de veículos a gasolina.

Podemos pensar nas energias renováveis como solução, mas a densidade energética de um litro de gasolina é de aproximadamente 9 kWh. Gerar essa quantidade de energia com sistemas renováveis não é simples. Além disso, o armazenamento apresenta um desafio considerável. Armazenar 1 litro de gasolina é simples e cotidiano, mas armazenar 9 kWh de energia renovável não é.

Embora os EV emitam menos CO2 durante seu uso, a produção de suas baterias requer materiais como lítio, cobalto e níquel, cuja extração e processamento são altamente poluentes. Além disso, os EV são mais complexos em design e reparo, o que eleva seus custos. Em um mundo onde a maioria dos componentes eletrônicos não é reparada, estamos falando de gerar mais resíduos que precisam ser reciclados.

Outra diferença fundamental entre os veículos elétricos e os a gasolina é a perda de autonomia quando estão estacionados. Os EV consomem energia constantemente para manter seus sistemas de refrigeração de baterias e eletrônicos, o que pode ser cerca de 2% ao dia. Essa degradação da autonomia é um fator importante quando deixamos nossos veículos guardados por longos períodos.

Finalmente, falemos do veículo símbolo dos EV: o Cybertruck. Este veículo, que tem gerado muita atenção recentemente, pesa 2995 kg, com uma bateria de 720 kg e uma capacidade de 123 kWh. Mede 5683 mm de comprimento e 2032 mm de largura, e tem uma autonomia média de 450 km.

Para comparar, o Cybertruck possui uma fonte de energia de 123 kWh em uma bateria de 720 kg. Em um veículo a gasolina, 720 kg de gasolina são aproximadamente 973 litros, equivalentes a 8757 kWh. Isso daria uma autonomia de aproximadamente 31.306 km. Isso mostra a considerável diferença em densidade energética entre os dois tipos de veículos.

Em conclusão, embora os veículos elétricos apresentem uma opção inovadora e necessária, devemos considerar todos os fatores associados, desde a infraestrutura até a geração de energia, para realmente avaliar seu impacto nas mudanças climáticas. A realidade é que não precisamos buscar substituir um meio de transporte por outro; nosso objetivo deve ser otimizar os atuais, buscando que a mobilidade seja algo grupal onde os meios de transporte público sejam um serviço que consiga reduzir a necessidade de veículos próprios para as pessoas.

Melhor poderíamos desenvolver redes de transporte público mais eficientes e acessíveis, promover o uso compartilhado de veículos e investir em tecnologias de transporte limpo. Ao melhorar a infraestrutura de transporte público e torná-la mais atraente, podemos reduzir significativamente nossa dependência de veículos privados e, consequentemente, diminuir as emissões globais de CO2 de maneira mais eficaz.

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