Lá vai ele...
Carter detonou o nacionalismo de Geisel apoiado por Glauber Rocha
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emEm julho de 1976, Glauber Rocha, escreveu, no Correio Braziliense, editado por Oliveira Bastos, artigo intitulado “Myzérya do lyberalysmo”, em que identificava Jimmy Carter, então presidente americano entre 1977 a 1981, tido como pacifista, com o que considerava liberalismo brasileiro, comandado pelo deputado Ulysses Guimarães, maior oposição ao regime militar.
O cineasta baiano, criador do Cinema Novo, incomodou toda a esquerda nacional, naquele momento, porque considerou-a equivocada em defender a política de direitos humanos de Carter, quando, na sua opinião, tinha que apoiar o nacionalismo de Geisel, bombardeado por Washington, porque tocava o programa nuclear brasileiro.
Onde estaria o Brasil, hoje, no cenário geopolítico internacional, se tivesse construído, com Geisel, a bomba atômica?
Como se sabe, mais tarde, FHC, submetido ao Consenso de Washington, romperia com a política de independência nuclear que Geisel pretendeu implementar.
A esquerda agiu com sinal trocado contra Geisel, conforme Glauber, que, com seu artigo, bombardeava o líder do PMDB, na Câmara, deputado Alencar Furtado, em polêmica sobre o assunto com o líder da Arena, deputado Zezinho Bonifácio, porta-voz da ditadura.
O fato é que a ditadura militar iria cair, com Figueiredo no poder, não porque ocorreu a mobilização pelas Diretas Já, mas porque Washington, em 1979, puxaria a taxa de juros de 5% para 21%, elevando aos píncaros a dívida externa, na periferia capitalista endividada em dólar, cujas consequências foi elevar o Brasil à hiperinflação.
Não foi fator interno, mas externo, ou seja, a mexida imperialista em sua política monetária, que produziu os efeitos destrutivos na economia, jogando por terra o desenvolvimentismo militarista nacionalista, ancorado em dívida externa.
Glauber, que havia chegado do exílio, vindo direto para Brasília, a fim de continuar luta política contra o liberalismo tupiniquim, comandado por Ulisses, com apoio de toda a esquerda, supostamente, encarnada na mídia conservadora, morreu demonizado pelos progressistas equivocados.
Esse equívoco, que Glauber combatia, sendo, por isso, taxado de doido, ficou expresso, no Governo Sarney, que Ulisses, então homem forte do governo, no Legislativo, traiu, ao negar-lhe apoio para lutar contra os credores da dívida externa.
O ministro da Fazenda Dilson Funaro, então assessorado pelos keynesianos-marxistas, Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manoel Cardoso de Mello, da escola heterodoxa de Campinas, não obteve o apoio de Ulysses, considerado Sr. Diretas Já, naquele momento superpoderoso no Congresso.
Efetivamente, Ulisses era personagem da velha oligarquia paulistana que havia lutado contra o nacionalista Getúlio Vargas, na contra-revolução de 1932.
Ulisses reafirmaria essa posição conservadora, aliando-se à banca internacional peitada por Sarney ao decretar a moratória da dívida, sendo, por isso, tachado de caloteiro, com ampla repercussão da mídia conservadora.
O resultado foi a derrocada rápida de Sarney, apoiada pela mídia conservadora pró-Washington, pró-mercado financeiro.
Na verdade, Sarney foi rifado pela banca, pela oligarquia bancocrática, que, ao puxar o tapete dele, jogou o país na bancarrota dos planos econômicos heterodoxos, até que chegasse FHC e seu plano real, avalizado pela ortodoxia do FMI, embora com restrições, dando início à rendição nacional ao Consenso de Washington, ao tripé neoliberal, vigente até hoje.
Glauber Rocha, com seu artigo premonitório, em 1976, deixaria claro que os liberais e neoliberais do então MDB não passavam de braço direito da ortodoxia antinacionalista que derrubou Geisel e mais tarde, com FHC, na Nova República, daria início ao desmonte da Era Vargas, culminando, posteriormente, com o fascismo bolsonarista.