A determinação do condomínio residencial em Monte Mor, interior de São Paulo, era bastante clara: qualquer imóvel que fosse construído por lá deveria possuir, obrigatoriamente, um telhado de barro. Uma diretriz que, dentro de toda a sua simplicidade, representava um verdadeiro contraponto em relação à linha de trabalho desenvolvida pelo escritório de arquitetura FGMF, que viria a assinar o projeto desta casa de veraneio e que, nas últimas décadas, tem se notabilizado por seus edifícios ousados e engenhosos.
Os clientes, um casal com dois filhos pré-adolescentes, também tinham lá suas exigências. Prioritariamente, construir uma casa livre de qualquer excesso, dentro de um orçamento comedido e que priorizasse as dependências de lazer. Era preciso ainda, dotar a morada de uma área capaz de receber e acomodar, com conforto, os amigos e frequentes hóspedes.
“A solução, então, foi apostar num imóvel térreo, sem maiores complicações, e que fosse criado a partir da ideia mais elementar de casa. Mais precisamente, a partir da imagem, quase lúdica, da casa retratada pelas crianças em seus desenhos. Aquela, com telhado de duas águas, paredes simples e chaminé”, explica o arquiteto Fernando Forte, da FGMF Arquitetos, um dos autores do projeto, ao lado dos sócios Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz.
Dentro deste ideal de simplicidade, a casa foi desenvolvida a partir de dois blocos ligados entre si. Um íntimo e reservado, com seis dormitórios, e outro destinado a abrigar a parte social e os serviços. Neste, a integração entre dentro e fora resultou em um dos pontos altos da obra, uma vez que um grande pórtico, com 100% de abertura, garantiu ao living a função de varanda sempre aberta.
Outro aspecto curioso deste imóvel, de 500 m², foi a escolha de seu tom dominante. Se, em geral, a casinha infantil de telhado em “V” é branca, por aqui ela surge toda de preto, cercada por uma piscina de ardósia que reproduz a tonalidade. Já os interiores, foram revestidos de madeira tauari, determinando um elegante jogo entre o claro e o escuro, o quente e o frio. Mas, como lembra Forte, o “espírito” de casinha não ficou restrito ao lado externo da obra.
Também a cozinha, instalada em uma das extremidades do galpão principal, e que conta com churrasqueira embutida, revisita a forma. No caso, por meio de uma pequena construção, inteiramente feita de madeira ebanizada que, caso tenha suas janelas fechadas, consegue ficar totalmente isolada do living.
“A cozinha é, na verdade, quase uma espécie de casinha inserida dentro da ala principal. Ela é toda preta para contrastar com a madeira tauari clara, que reveste o forro e as paredes. Esse é um aspecto muito legal e tem a ver com este lado lúdico da casa. A churrasqueira também fica embutida no local, disfarçada por uma guilhotina”, explica o arquiteto.
Completando a linha de móveis executados sob medida, uma ampla estante vazada, de grandes proporções, e feita na mesma matéria-prima do revestimento, ocupa a outra extremidade do living, sem, no entanto, interferir na sensação de continuidade entre os espaços dedicados às refeições, e ao descanso e lazer.
Também dignas de notas, sofisticadas treliças metálicas, feitas em substituição aos tradicionais alicerces de madeira, servem de sustentação ao telhado. Segundo Forte, um elemento contemporâneo, bastante ligado à arquitetura produzida pelo FGMF, que vem contrabalancear a atmosfera bucólica sugerida pela madeira. Isso, claro, sem falar no mobiliário, que investe pesado na matéria-prima. “Como tudo o mais, os móveis são leves e discretos. Ícones mesmo só dois: a poltrona Jangada, de Jean Gillon, e a Mole, de Sergio Rodrigues. Essas não poderiam mesmo faltar”, brinca o arquiteto.