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Caso Lázaro mostra despreparo da polícia contra psicopatas

Perdidos no mato e na mesmice dos superiores, os policiais militares do Distrito Federal e de Goiás mostraram ao Brasil e ao mundo o que todos já sabiam, mas fingiam não acreditar. Como seus comandantes e chefes máximos (os governadores), nossas polícias são absolutamente despreparadas para qualquer trabalho fora do asfalto e do habitual: prender bêbados, infratores inofensivos, espancar jovens e velhos que não oferecem resistência e multar motoristas desavisados e veículos mal estacionados ou com documentação fora do prazo. Quando invadem comunidades, entre um e outro marginal, matam dezenas de inocentes. Bandidos perigosos ou ladrões pegos com a boca na botija e assaltantes de ônibus não fazem parte da lista de afazeres da maioria desses soldados que um dia foram considerados aptos para garantir a segurança de seus verdadeiros patrões: os contribuintes.

Culpa deles? Nossa máxima culpa, pois aceitamos passivamente quando o Estado deixa de punir com rigor os malfeitores fardados que contrata. Claro que esse perfil não é privilégio das PMs brasiliense e goiana. Refiro-me especificamente a elas porque, além dos melhores salários do país, normalmente são avaliadas por seus governadores e secretários de Segurança como as melhores e mais atuantes do Brasil, quiçá do mundo. Infelizmente, não é o que vemos. São corporações formadas, em sua maioria, por jovens concurseiros e que tiveram de aprender a atirar na marra e em cursinhos intensivos ministrados por superiores que também não têm pontaria. O máximo que aprendem é o palavreado egocêntrico das forças de segurança brasileiras. Indecifrável, o vocabulário lembra demais uma conversa entre operadores de telemarketing, aqueles que acham prosaico e bonitinho usar o gerundismo no contato telefônico com eventuais clientes.

Como são preparados por pessoas sem o devido aprendizado para lidar com semelhantes, saem das academias como entraram: sem preparo para entenderem que, na pior das hipóteses, o cidadão ou cidadã a ser abordado é, como ele, um ser humano que merece todo respeito. Diariamente ouvimos ou assistimos o contrário. De folga ou de serviço, o mais comum é a carteirada, aquela que é sinônimo do “sabe com quem está falando”? Foi o que ocorreu recentemente com um jovem ciclista negro que se exercitava ao ar livre em uma cidade do entorno de Brasília. Antes que pudesse dizer seu nome, foi emparedado aos berros e algemado por dois soldados goianos, cuja única intenção era informar ao suposto “meliante” que eram autoridades e cabia a eles dar as ordens. Pareciam dois imperadores do país do faz de conta.

Não são e nunca serão. Na verdade, como todos os demais, são dois pobres coitados que jamais leram ou ouviram falar sobre a lei de causa e efeito ou a reciprocidade, as mesmas que indicam “viva pela espada, morra pela espada”. Acompanhando in loco a caçada a Lázaro Barbosa, novos e antigos companheiros do jornalismo investigativo perceberam desde os primeiros minutos da empreitada que dificilmente os policiais “lograriam rápido êxito”. Com vários comandos, nenhum comando e conhecimento zero de uma mata, poucos dos “meganhas” sabiam de fato o que estavam fazendo. Sem margem de erro, não imaginavam a quem procuravam. Tinham ouvido falar sobre um “meliante” que, “sorrateiramente”, “evadiu-se” do presídio. Entre uma e outra busca frustrada e intercalando com as entrevistas do secretário de Segurança, nada para fazer a não ser esperar por uma nova pista que nunca aparece e se exercitar no tik tok. Em resumo, é o despreparo de um grupo contra a esperteza de um homem.

De concreto, um urutu de dinheiro gasto com 300 policiais, dezenas de viaturas, helicópteros, drones, cachorros treinados e reforço da Polícia Federal, Polícia Rodoviária, Força Nacional e Exército e quase 500 horas de busca a um único homem. E não importa que seja mateiro, profundo conhecedor da região, psicopata, homicida perigoso, serial killer ou super-homem. Era um criminoso solo, definido candidamente pelo governador do DF, Ibaneis Rocha, como o sujeito que, por 20 dias, fez a polícia de duas cidades de boba. Ibaneis e Ronaldo Caiado, governador de Goiás, não estiveram sozinhos na longa e cansativa operação. Deveriam repassar todos os custos da busca para o Poder Judiciário, que desavisadamente soltou o fora da lei. Mesmo com ficha criminal de quilômetros, Lázaro Barbosa foi libertado para um saidão por uma juíza que provavelmente nunca tenha sujado os sapatos em uma “visita” à periferia das cidades brasileiras. Lázaro foi morto, como era esperado, para gaudio dos meganhas, oficiais e, principalmente, dos governadores, que passaram dias e dias anunciando as excelências de suas polícias.

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