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Castigo para mentiroso é virar um eterno fake

O presidente Jair Bolsonaro recebe o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, no Palácio do Planalto.

Sempre soube que mentiras têm pernas curtas. O que só descobri depois do governo tirânico e maluquete de Jair Messias é que o sucesso normalmente é um grande mentiroso. Buscando as teorias inquestionavelmente verdadeiras de antigos filósofos, hoje tenho certeza de que o maior castigo para o mentiroso é não ser acreditado, mesmo que fale a verdade. Novamente sou obrigado a fazer remissão ao presidente que foi sem nunca ter sido. Aliás, se chegou a ser alguma coisa, foi encarnar a própria fraude que, desde a posse, creditou aos adversários. Mentiu, mentiu, enganou e, quando descoberto, fugiu, ficou bravo e se fez de vítima.

É a norma dos mentirosos. Eles se julgam espertos até o dia em que percebem a dimensão de suas perdas. Junto com uma conta do tamanho de sua inércia e das bobagens que produziu como mandatário, esse dia chegou para Bolsonaro. Governou para poucos, mentiu para si mesmo que era capaz, errou em praticamente tudo que tocou e tentou enganar eleitores com uma história produzida com dois objetivos: tumultuar o pleito e buscar desculpas esfarrapadas para uma derrota que já se desenhava. Os resultados foram rápidos: ressuscitou um adversário que imaginava “morto”, perdeu uma eleição que sonhava ganhar, expôs o Brasil a vexames nacionais e internacionais desnecessários e mergulhou sua imagem num atoleiro que, no mínimo, lhe custará futuras candidaturas.

Se o Deus que o abandonou ajudar, talvez consiga uniformes mais claros do que a farda verde oliva que um dia também desonrou. Não tenho por hábito torcer contra esse ou aquele candidato eleito democraticamente para qualquer tipo de cargo. Entretanto, apesar de Jair Messias se enquadrar nesse perfil, desde os tempos em que o conheci deputado federal, registrei no cerebelo que, assim como não há fatos eternos, não há verdades absolutas. O mundo girou, ele virou presidente da República e, então, provei para minha consciência a tese filosófica de que as pequenas mentiras geram grandes decepções.

E agora? O que fazer para esconder os mal feitos? Nada, além de esperar as consequências, que podem ser serenas, silenciosas, desesperadoras, perturbadoras, traumáticas, reclusas e até em situação de estufilha. O tempo é quem dirá. O fato é que a maioria do povo brasileiro descobriu que, mais feio do que mentir, é mentir para quem já sabe a verdade. Um exemplo da mentirada foram os pedidos de sigilo de Jair Messias. Em quatro anos, o governo Bolsonaro requereu 1.108 sigilos de cem anos. Na visão político-administrativa mais amadora, um governante erra ou age de má fé quando impõe sigilo total a documentos apenas porque neles há dados que o incriminam.

Lembrando que quem não deve não teme, o ex-presidente impôs sigilos que vão do acesso de seus filhos ao Palácio do Planalto e do cartão de vacinação às supostas reuniões com pastores evangélicos que negociavam verbas públicas com prefeitos em nome do Ministério da Educação. Logo após ser empossado, Luiz Inácio deu prazo de 30 dias para que a Controladoria Geral da União (CGU) se manifeste sobre todos os pedidos de sigilo. Tema específico de um futuro artigo, até agora os gastos com o cartão corporativo do ex-mito são terrivelmente comprometedores. Acredito que o governo Lula não está aí para caçar bruxas, tampouco para brincadeirinhas de caça ao rato.

No entanto, a necessidade de mostrar serviço e, sobretudo, a vontade de acertar em tudo que fizer, impõe algumas formalidades fundamentais para a governabilidade sem fantasmas. Entre as primeiras medidas após a posse está a revogação integral ou parcial de vários decretos presidenciais do antecessor, entre eles os que envolvem os sigilos. Esconder o que o Brasil e os brasileiros tinham o direito de saber é mais uma fraude do líder que, sob juramento, prometeu governar somente com verdades. Não cumpriu, permitindo que o eleitor avalie todas as mentiras como uma porta de saída que se fechou sem a possibilidade de retorno. É o velho axioma de que não existe chave que abra uma confiança perdida.

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