Birigui e as metáforas
Cavalo dado, buraco e chegada ao Japão
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emBirigui levava tudo ao pé da letra. Se ouvia dizer que alguém era que nem chiclete, ele imaginava a pessoa sendo mastigada até que lhe fizesse de bola, que estouraria de tanto assoprá-la. Não tardaria, seria cuspida. O moleque não entendia as metáforas da vida, mesmo por mais absurdas que fossem.
Os amiguinhos de Birigui, sabendo dessa sua característica, adoravam lhe pregar peças. Vale aqui lembrar da vez que ele ganhou de presente uma camisa do Fluminense. Ele, que era Botafogo, fez cara de poucos amigos, até que a sua mãe lhe disse: “Meu filho, cavalo dado não se olha os dentes!” Pra quê? Dizem que o menino ficou no quintal por três dias esperando alguém entrar portão adentro com um belo alazão.
Outra história que aconteceu foi quando ele assistia a uma aula de geografia. A professora disse para a turma que, caso fosse possível cavar um buraco até o outro lado do planeta, se chegaria ao Japão. Esse foi o estopim para que Birigui arquitetasse sua nova empreitada.
Mal chegou à sua casa, pegou seu baldinho e sua pá de plástico e foi direto pro quintal. Sua mãe parece que gostou de ver o filho entretido com aquela brincadeira, que ela mal sabia no que iria dar. A mulher até pensou em perguntar pro garoto o que ele estava fazendo, mas o feijão no fogo a impediu de fazê-lo.
Birigui começou a cavar um buraco, que, a princípio, mal dava para colocar o pequeno vira-lata da casa. No entanto, com o passar dos dias, já era possível o próprio menino se esconder ali com certo conforto. Não satisfeito, continuou a aprofundar ainda mais aquele buraco.
Cavou tanto, que chegou do outro lado do planeta. Olhou aquele monte de gente de olhos puxados e pensou que estivesse na Liberdade, famoso bairro de São Paulo. Por mais incrível que aquilo fosse, Birigui havia chegado ao Japão. Se era realidade ou sonho, talvez até devaneio, não importava. Isto é, até que o menino começou a ficar incomodado com o próprio xixi, que agora ficara gelado e, então, despertou.