Um tipo de cefaleia desconhecida pela população, mas cada vez mais frequente nos consultórios médicos, é a dor de cabeça provocada por uso excessivo de analgésicos. O caso foi apresentado nesta semana no Congresso Brasileiro e Panamericano de Neurologia, na capital paulista.
Segundo Márcio Nattan Portes Souza, neurologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, o paciente que sofre constantemente com dores de cabeça e passa a abusar da medicação pode desenvolver ainda mais cefaleia.
“A gente observa que o paciente sabe disso, que começa a diminuir o efeito do analgésico. Então, antes [a dor de cabeça] melhorava completamente, agora não melhora tanto. Antes, ele [o paciente] ficava três dias sem dor depois que tomava um analgésico, agora ele fica meio dia e a dor volta”, disse o médico.
O especialista lembra que, por ser um desconforto comum entre a população, poucas pessoas procuram ajuda médica, o que só piora o problema. “A Sociedade Brasileira de Neurologia recomenda que em casos de mais de três dias com dor de cabeça por mês ou de mais de três meses de dores de cabeça frequentes, é preciso procurar a ajuda de um neurologista”.
Tratamento – Além da conscientização do paciente para eliminar os abusos, existe o tratamento contínuo que evita o surgimento das dores. “Quando você está fazendo o tratamento profilático, você toma uma medicação todos os dias. Em quatro semanas, começa a diminuir a frequência da dor de cabeça. Sem esse tratamento, principalmente para quem tem dor muito frequente, não há como melhorar”, esclarece o médico.
Ele recomenda também uma reflexão sobre os hábitos. Nattan sugere que o paciente invista em atividade física, na redução do peso (para obesos), melhora do sono, no combate ao estresse e tratamento dos sintomas de depressão e ansiedade. A meditação também pode ser uma boa aliada.
Enxaqueca – O especialista explica que a enxaqueca tem influência genética e que o gatilho nem sempre é a causa do problema. Gatilhos são fatores desencadeadores das dores, sendo os mais comuns a ingestão de chocolate, alimentos embutidos, enlatados e bebidas alcóolicas, especialmente o vinho tinto com alto teor de tanino. A cafeina (presente no café, refrigerante de cola e energético) é contraditória, pois pode tanto auxiliar no tratamento, quanto servir como gatilho na piora da dor.
Quando a cefaleia dura mais de 15 dias (com oito dias de características típicas da doença), em um mês já pode ser considerada crônica. Essa forma mais grave de cefaleia afeta 15% da população mundial e é responsável por 20% dos dias perdidos no trabalho nos Estados Unidos. Entre os que sofrem de enxaqueca, o abuso de analgésicos também é presente – de 25% a 50% dos pacientes fazem uso excessivo desses medicamentos.
Sinais de perigo – Dor de cabeça pode ser sintoma de uma doença mais grave. “A dor de cabeça ser forte, em si, não significa sinal de alarme. Mas quando a dor de cabeça começa subitamente e, em poucos segundo já está extremamente intensa, é chamada de trovoada. Parece que está explodindo a cabeça. A pessoa não deve marcar consulta e sim ir para o Pronto-Socorro”, alerta o médico.
Ouros sinais citados por Nattan são desmaio, dor de cabeça diferente do habitual e associada a febre. Além disso, pessoas com mais de 50 anos, sem histórico de dores, devem se preocupar se apresentar os sintomas. Pacientes transplantados ou com doenças imunodepressoras também devem ficar atentos.