A Câmara Legislativa do Distrito Federal sempre surpreende quando o assunto é articulação política. Logo na abertura dos trabalhos legislativos – no dia 1º de janeiro – formou unidade num blocão para fechar questão com Ibaneis Rocha (MDB) sobre a presidência da casa. Missão cumprida, com a eleição do emedebista Wellington Luiz por unanimidade.
Na semana seguinte – após os atos terroristas que depredaram a Praça dos Três Poderes, centro nervoso do executivo-político-judiciário do País -, um novo blocão foi formado na Casa dos deputado distritais: dessa vez como os personagens de Alexandre Dumas, na base do um por todos e todos por um, para investigar não apenas os atos golpistas, mas também, e principalmente, quem são os agentes públicos que confrontaram sem sucesso o Estado Democrático de Direito.
O pente fino vai pegar todo mundo. Como o presidente da República é o chefe supremo das Forças Armadas, um governador de estado, e no seu impedimento o vice, é o chefe supremo das forças auxiliares. Não precisa dizer mais nada, certo?
O resultado de toda essa união pode continuar prosperando em termos de articulação política na Câmara Legislativa, mas o trabalho parlamentar precisa prosseguir. É aí que formam-se os blocos e bancadas para defesa de interesses particulares ou mesmo de grupos corporativistas.
Hoje a Câmara Legislativa conta com 6 blocos para montar o espectro político da capital. Porém, apesar de toda essa união citada acima, fica difícil saber quem é oposição ou situação na política brasiliense.
O último bloco parlamentar a ser constituído na Câmara Legislativa foi batizado de “A Força da Família”. Quem sabe inspirado no antigo ocupante do palácio que fica em um dos extremos do Eixo Monumental, recentemente vandalizado.
É um agrupamento sui generis e vai contar com sete deputados de diversas matrizes político-ideológico na sopa de letrinhas que formam nosso anuário partidário, mas d de tendência de centro, centro-direita e extrema-direita.
Trata-se de clara demonstração da situação política atual: a direita identificada com a claque bolsonarista se articula, com Celina Leão no exercício de chefe do Palácio do Buriti. Pelo andar da carruagem dá para ver como serão os trabalhos dos distritais na nova legislatura.
“A Força da Família” tem afluentes do PP, PMN, Agir, Cidadania (mas não a ala lulista) e Avante. São parlamentares identificados com a mandatária interina, que pode ser efetivada dependendo do que aconteça nos próximos 90 dias, período de afastamento de Ibaneis.
O ‘Bolsa Felina’, como está sendo chamado o novo bloco, é a base com a qual Celina Leão pode contar para negociar a aprovação do que lhe interessa no seio do Legislativo. É o maior entre os seis blocos e bancadas já existentes na Câmara Legislativa. O deputado João Cardoso (Avante) foi escolhido como líder, e a deputada Paula Belmonte (bolsonarista-raiz ainda no Cidadania) será a vice-líder. Os outros integrantes são Jaqueline Silva (Agir), Delegada Jane (Agir), Pastor Daniel de Castro (PP), Pepa (PP) e Rogério Morro da Cruz (PMN).
Aparentemente, está completa a divisão política-ideológica da CLDF. A Casa irá prosseguir nos seus trabalhos legislativos tendo em suas fileiras os seguintes blocos e bancadas: “A Força da Família”, com 7 deputados (dentre esses 2 do partido de Celina Leão), Bancada do MDB, com 3 deputados, todos ligados ao governador afastado; Bancada PSOL-PSB, com 3 deputados (e considerada oposição ao governo de plantão); Bancada do PL, com 4 deputados (e base de Ibaneis Rocha, também considerada célula bolsonarista na capital da República.; Bancada do PT e seus 3 deputados, e considerada oposição ao governo de plantão) e, ainda, o O Bloco “União Democrática”. São 4 deputados distritais que, para quem conhece as manhas da política, sabe que agirão como o fiel da balança para aprovações de interesses, não só coletivos, como, em especial, os particulares.
Moral da história: a Câmara Legislativa se organiza para trabalhar, mas é a direita que se articula para dar sustentação à Celina Leão enquanto e para além a vice estiver no comando. Não foi à toa que a interina prometeu nesta segunda, 16, dar mais segurança à Esplanada os Ministérios e à Praça dos Poderes. Mas, pelo sim, pelo não, ela fez o anúncio com os dedos cruzados.
*Professor e atento observador do cenário político de Brasília