A leoa saiu da caverna onde esteve hibernando nos últimos dias. Magoada com o vazamento da ainda inexplicável carona em um jatinho particular em missão oficial, a presidente da Câmara Legislativa resolveu mostrar que as garras continuam afiadas. E deu o troco, ferindo de golpe mortal seus dois novos desafetos – os deputados Robério Negreiros (PMDB) e Rodrigo Delmasso (PTN).
Celina Leão (PDT), é daquelas mulheres que guardam mágoa, que sabem o que é engolir frio para depois saborear uma doce sobremesa. Ela atribui a Robério e Delmasso ter sido exposta em fotos sensuais, além do fato de ter viajado de carona. E acaba de usar seu fiel escudeiro Valério Neves, como vetor para entregar de bandeja aqueles a quem costuma chamar em conversas íntimas de Danoninho e Toddynho.
Na tentativa de mostrar que quem manda na Câmara é ela, e que tem seus 23 colegas nas rédeas, Celina determinou a Valério Neves que fizesse chegar aos ouvidos dos deputados Renato Andrade (PR) e Raimundo Ribeiro (PMDB), presidente e relator da CPI dos Ônibus, informações sobre gravações bombásticas envolvendo Robério e Delmasso em investigações que retroagem ao escândalo do DFtrans.
Não se sabe que meios Valério, secretário-geral da Mesa Diretora, usou para cumprir a missão determinada por Celina. O certo, porém, é que a CPI dos Ônibus, representada por seus dois principais motoristas, transferiu desta quinta, 15, para a sexta-feira, 16, o tradicional encontro semanal.
Com a reunião antes agendada cancelada, Renato e Raimundo foram visitar Éric Seba, diretor-geral da Polícia Civil. E saíram de lá com informações suficientes para a abertura de processos por quebra de decoro parlamentar contra Robério Negreiros e Rodrigo Delmasso.
Questionado por emissários dos dois novos suspeitos, Valério Neves desconversou. E reiterou mais uma vez, como costuma fazer, que recebe ordens apenas da presidente Celina Leão.
Se Valério Neves é ou não maquiavélico, ou se apenas se permite usar como instrumento de vingança de Celina Leão, essa é uma questão de foro íntimo. Mas Robério e Delmasso prometem fazer de tudo para que as gravações em que são citados permaneçam trancadas na caixa preta onde se desenvolve o jogo sujo, pesado e perigoso da Câmara Legislativa.
Robério não foi localizado para comentar o fato de ter virado João nas mãos de Celina e Valério. Procuradas, as assessorias de Renato Andrade e Raimundo Ribeiro não retornaram as ligações até o fechamento desta matéria.
Já Rodrigo Delmasso, embora também não tenha sido ouvido diretamente, mandou dizer por um assessor que tem a consciência tranquila. E lembrou, a propósito, que esteve recentemente com o delegado Éric Seba, quando procurou esclarecer o episódio das gravações de conversas entre deputados e o governador Rodrigo Rollemberg, onde ele aparecia como principal suspeito.
Ao delegado, o deputado ofereceu seu aparelho celular, para mostrar que não havia indício de gravação de quaisquer conversas. Seba, claro, agradeceu a oferta de Delmasso, numa suposta sinalização de que o deputado, no episódio em questão, estaria acima de qualquer suspeita. Mesmo porque, o diretor da Polícia Civil, como de resto toda Brasília, sabe que a gravação foi feita por meio de um relógio. Isso, lógico, se for considerada a confidência de Valério Neves.
José Seabra