Cem estátuas em diferentes pontos do Rio amanheceram neste sábado (12) com vendas vermelhas em tom de protesto. A intervenção, como antecipou a coluna de Ancelmo Gois, é de autoria do artista urbano à frente do Oráculo Project, que prefere manter o anonimato.
Ele passou a madrugada percorrendo cartões-postais da cidade, como a Praia de Botafogo, Praça Tiradentes, além de trechos da Avenida Presidente Vargas, do Leme, da Gávea e de outros bairros, para vendar monumentos em homenagem a figuras históricas. Bustos de Getúlio Vargas, na Glória; de Gandhi, na Cinelândia; e de José de Alencar, no Largo do Machado, são alguns dos que receberam faixas na altura dos olhos.
Segundo o artista, que registrou o trabalho em sua conta no Instagram (@oraculoproject), a iniciativa é um ato “contra a situação vergonhosa que o país está vivendo”.
— A ideia era vendar os olhos daqueles que não podem mais fazer nada pelo Brasil, pois já morreram. A mensagem embutida nisso é a de que agir em prol do país só depende do querer — afirmou. — Além disso, é um gesto para “poupar” as estátuas de ficarem assistindo à crise econômica e política sem poder se mobilizar — completou.
Ele, no entanto, nega que a intervenção tenha viés partidário.
— Por causa da cor vermelha, muita gente vai achar que é uma ação contra ou a favor do PT. Não é nada disso. O Oráculo Project não tem partido, só não gosta da situação como está — esclarece.
Ele também descarta uma ligação direta com as manifestações contra o governo federal, marcadas para este domingo (13), em todo o país.
— É apenas uma crítica política. E chama atenção para o fato de que protestar não é só ir para as ruas, e não significa estar envolvido em atos violentos, como muitas pessoas pensam. Uma manifestação pode ser artística, sutil — observa. — E, neste caso, é uma ação limpa, que respeita o patrimônio público, pois não usa tintas.
Desde 2014, o Oráculo Project vem realizando intervenções próximas a pontos turísticos cariocas. Em uma delas, pintou de vermelho troncos cortados em diferentes bairros da cidade, numa crítica à remoção de árvores. Utilizando a técnica do estêncil, ele também se consagrou por mensagens como “Pare aqui e aprecie a vida por um minuto”, distribuídas diante de paisagens, como a Lagoa Rodrigo de Freitas.
— A arte de rua é só um veículo, que pode conter expressões poéticas e políticas. E ela estende até onde não dá para medir. Gosto de não ter controle sobre minha arte. É sempre uma ação pensada, mas está constantemente aberta a diferentes interpretações — pontua.