O Lado B da Literatura
Cem, Sem, Zen, os sonetos de Cláudio Carvalho
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Dia desses, fui chamado de retratista do dia a dia dos escritores. Quem disse? A Cecília Baumann, minha jovem colega aqui no Café Literário. Nem sabia se a Ceci, como todos a chamamos, tinha conhecimento desse termo tão antigo. Não por falta de capacidade, mas porque retratista é uma palavra em desuso desde quando, arrisco a dizer, o Daniel Marchi, vulgo Dan, utilizava fraldas. Pois gostei! A partir de agora, tomei para mim o carinhoso apelido dado pela Ceci.
Por falar em retratista, hoje é dia de falar sobre o escritor Claudio Carvalho, que foi pego de surpresa enquanto viajava confortavelmente de ônibus para, como ele disse, suas gulosas férias:
“… estou neste momento no ônibus a caminho da segunda parte das férias, aquele em que vejo mato, falo pouco e bebo água. Escrevi uma pequena crônica sobre a primeira fase das férias, paulistana e gastronômica. Acho que pode servir aos propósitos do tal Lado B.”
Gulosas férias? Será que o nosso querido escritor é do tipo que só consegue pensar quando a barriga está cheia? Vejamos, então, mais um trecho da sua missiva.
“Estou indo, agora, para a segunda perna das minhas justas férias. Agora, é desintoxicação de corpo e espírito, no mato. Logo no começo do ano, terei muito trabalho de ensino, pesquisa, extensão e o lançamento de meu livro de sonetos Cem, Sem, Zen (sonetos), pela Mondru. Vocês vão comprar, ler e gostar, né? Além disso, os livros da Luz Marina Cavalcanti e a estreia da Tatiane da Silva Lima são tarefas nas quais quero ajudar.”
A primeira parte das férias do talentoso escritor Claudio (sem acento, por favor) revela que ele poderia arrumar um bico como guia da gastronomia paulistana.
Os passeios a São Paulo, a primeira perna das férias, são cada vez mais gastronômicos e menos especificamente culturais. É justo, né? Trabalho todo o tempo com “cultura”, à base de dois cafés e uma água. Poder saborear algo sem pressa, sem medir muito os gastos e sabendo que é um investimento, vale a pena e é um conforto para quem, por boa parte de sua infância e juventude sofreu, se não com fome, com insegurança alimentar.
Desta vez, meus destaques são: o Balaio IMS, do Rodrigo Oliveira, no térreo da Moreira Salles, na Paulista. Pagamos cerca de 500,00, três pessoas. Não é caro para um Michelin 2024, né? Eu comi um Pirarucu com purê de banana. Ótimo. Vinicius comeu uma carne de sol de porco com um baião de dois cremoso maravilhoso. E a Regina, minha companheira, sempre menos regional, comeu um filé. Tudo muito bom. Entradas excelentes. Mas, o campeão é o sorvete de coco queimado com rapadura. Quero voltar lá pra comprar aquela sobremesa dos deuses.
O segundo destaque é o Momo, na Liberdade. Um restaurante especializado em Lámen. Pedimos dois lámens e um curry. Eu pedi o curry, com camarão, mas provei de tudo. Muito bons os três pratos. O da Regina com frango e o do Vivi com porco, devo dizer, estavam melhores que o meu curry. Em média, 60,00 cada prato. Vou voltar, se Deus e o país permitirem.
Porém, o terceiro destaque e o mais expressivo é o rodízio de sushi do Hojiro, na Moóca. Custou 140,00 por pessoa, com sobremesa, bebidas não incluídas. Fica um pouco longe, mas, foi simplesmente o melhor rodízio de sushis que comi em minha longa vida de sessenta e quatro anos. Tudo perfeito. O único item que eu não pediria novamente seria a ostra gratinada. Não porque estivesse mal-feita, mas, ostra exige fé na natureza e simplicidade: sal, limão, no máximo um azeite e… beira da praia. E havia muito tempero naquela ostra deslocada e perdida na Moóca, onde todos sabemos que não há praia. Mas, quem mandou eu pedir?”
Para terminar, o Claudio revela certa preocupação em relação à possível abertura de um restaurante na Cidade Maravilhosa. Não que ele não goste da comilança, já que o motivo é outro.
Pra meu desespero, soube que vão abrir um Hojiro no Rio de Janeiro. Tomara que seja bem longe de onde moro. Meu salário de professor e minhas andanças literárias não podem sustentar tal estilo de vida. Por isso, peço que vocês comprem meus sonetos e outros livros meus. Se renderem uma nova ida ao Hojiro ou mais um sorvete de coco queimado com rapadura, ficarei muito feliz. Como escreveu Bandeira: “a vida assim nos afeiçoa”.
Espero que você tenha gostado de conhecer um pouco sobre o outro lado do nosso escritor brasileiro Claudio Carvalho. O talento é imensurável, mas o salário… Ó!
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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.
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