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Cemitérios ficam saturados e gregos começam a alugar túmulos

George Vlassis voou quase 500km, de Atenas para a ilha de Corfu, na Grécia, para enterrar seu pai. Os ossos haviam sido exumados de um cemitério na capital grega e colocados em uma caixa de metal, levada no avião.

“Tive que alertar os funcionários do aeroporto sobre o que encontrariam na caixa”, diz Vlassis. Depois desta longa viagem, ele enterrou a caixa em um cemitério privado no povoado na ilha onde vive e, assim, finalmente, conseguiu um lugar permanente para os restos mortais de seu pai.

Na Grécia, histórias assim não são incomuns. Enterros têm sido temporários nas grandes cidades, devido à pouca disponibilidade de terras e à superlotação nos cemitérios existentes na capital e em Salônica, a segunda maior cidade do país.

E, como não há crematórios na Grécia, os espaços existentes em cemitérios têm de ser reutilizados com frequência.

Por isso, túmulos costumam ser alugados, e os contratos duram em média três anos. “Isso custa para uma família cerca de US$ 2,2 mil (R$ 6,6 mil) e US$ 3,3 mil ao longo deste período”, explica Antony Alakiotis, do Comitê de Cremação, na Grécia.

Quando o prazo se encerra, as famílias são chamadas para testemunhar a exumação dos restos mortais do falecido e buscar um novo destino para eles.

Os familiares podem pagar para depositá-los em um ossuário, mas alguns preferem enterrar seus entes queridos de novo em cemitérios regionais.

Caso familiares não estejam presentes na exumação, os ossos desenterrados são dissolvidos com soluções químicas e o que sobra é colocado em uma fossa comum.

Vlassis enviou um representante da família para presenciar a exumação dos ossos de seu pai, mas o relato que ouviu mostra uma situação comum enfrentada por várias famílias gregas.

“O corpo não havia se decomposto. Foi terrível”, disse ele. “Disseram que o enterrariam de novo, com uma cobertura mais fina de terra. Quando fui visitá-lo três meses depois, o corpo havia se decomposto. Colocaram os ossos em uma caixa de plástico. Onde já se viu colocar meu pai em uma caixa de plástico…”

Vlassis e seu pai preferiam a cremação, para que suas cinzas fossem jogadas ao mar. No entanto, a Grécia é o único país da União Europeia sem instalações para cremar seus mortos.

Ainda que a prática tenha sido legalizada em 2006, os esforços para construir um crematório foram paralisados após objeções de autoridades municipais e pela Igreja Ortodoxa grega.

Para a Igreja, a cremação é uma violação do corpo humano. A única opção que resta a muitas famílias é viajar ao exterior para cremar seus entes queridos.

Antony Alakiotis criou o Comitê para Cremação na Grécia depois de presenciar a exumação de seu pai quando tinha 14 anos e tem promovido uma campanha contra as duras regras para os enterros.

“Para um jovem, já é uma experiência muito triste perder um pai, ainda mais ter que passar pela exumação pouco depois”, afirma Alakiotis. “Agora, tenho 60 anos, mais ainda hoje fazem as coisas da mesma forma.”

Alakiotis acredita que a cremação pode aliviar não só a superlotação nos cemitérios, mas também o peso financeiro sobre as famílias. “A cremação sairia pela metade do preço. Pode ser uma opção mais barata para as pessoas.”

O prefeito de Salônica, Yiannis Boutaris, diz que também busca uma alternativa para o sistema “incômodo e desumano” de aluguéis de túmulos.

No ano passado, conseguiu que o ministério do Meio Ambiente modificasse a legislação atual para eliminar restrições sobre os locais onde pode ser construído um crematório.

“A nova versão da lei permite que sejam construídos crematórios fora de cemitérios”, afirma Boutaris, que perdeu sua mãe no início do ano e decidiu cremá-la fora do país.

Já a Igreja condenou a mudança na lei, por considerá-la uma tentativa de “remover a fé de todos os âmbitos da vida”.

Seus sacerdotes foram instruídos a não fazer funerais para os que tenham optado pela cremação. Ainda assim, Boutaris reafirma seu compromisso em ter um crematório em funcionamento em Salônica até 2016.

“Estamos buscando o melhor lugar e formas de financiar o projeto”, diz ele. “O que está em jogo é a liberdade individual de dispor do próprio corpo, assim como ocorre com a doação de órgãos.”

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