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Cenário de crise não é sinônimo de desânimo e entrega de pontos

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Roberto Shinyashiki

A crise econômica transformou o Brasil no maior caos. E o ambiente das empresas é frequentemente afetado porque muitas vezes as vendas não acontecem. As pessoas ficam preocupadas com seus empregos e seus resultados. Começam as fofocas, os boatos de demissão e até mesmo as próprias demissões acontecem.

E surge a questão: como mantenho minha performance sob muita pressão? A resposta é a mesma de como um atleta mantém sua atuação em um campeonato como as Olimpíadas, por exemplo. Ou como um time de futebol ou de basquete atua debaixo de uma forte cobrança, ou quando uma equipe inferior está jogando com a favorita do campeonato.

Como as pessoas fazem para mudar as probabilidades? Trabalhei muito tempo com atletas de alta performance e percebi que eles têm uma característica muito forte: a blindagem. Ayrton Senna era tão focado, tão concentrado, que conseguia tirar uma soneca no cockpit antes da corrida. Como ele conseguia?

Os atletas que admiramos são aqueles que jogam bem, independente se o campo está bom ou ruim, se a torcida contrária está vaiando ou jogando coisas, se o outro time está ganhando de 3 a 0. Então, o que eles têm? Blindagem.

O que é blindagem? É a capacidade de não deixar os fatores externos perturbarem e alterarem a sua performance, ou seja, seu foco no resultado. Como um atleta tem essa virtude da blindagem? Ele tem foco no que ele está fazendo, principalmente no resultado. Só atletas olímpicos têm essa blindagem? Não.

Eu sou médico e, durante a faculdade, trabalhava com cirurgia e achava impressionantes os cirurgiões que tinham essa virtude. Às vezes, chegava ao pronto-socorro um paciente baleado, com muito sangue, a pressão lá embaixo, precisando de transfusão. E o cirurgião entrava no centro cirúrgico sob a pressão do tempo, da gravidade do caso, e com foco total no que estava fazendo, revertia o quadro do paciente e alcançava um ótimo resultado.

Em um momento como esse, a última coisa que você precisa fazer é se interessar pelo que está acontecendo ao redor, principalmente quando se tratam de boatos, fofocas, gente querendo abalar a sua performance. Quando pessoas chegarem com baixo astral, com notícia ruim, é hora de você manter o seu foco, como um neurocirurgião, que tem que ser preciso e utilizar tudo o que sabe, todo o seu potencial. Focar no que está fazendo e no resultado que precisa entregar vai fazer você não se deixar contaminar e isso é treino –ou seja, é uma blindagem.

O outro lado tem a ver com a palavra motivação, que vem de motivo. E é muito importante manter a qualidade da nossa performance e a motivação, que é a qualidade do nosso motivo. Precisamos ter muito claro o que estamos fazendo.

Certa vez, ganhei uma bolsa de estudos para cursar Administração de Empresas no Japão. Era um curso intensivo, mas eu tinha os finais de semana livres. O Monte Fuji é a paisagem mais típica do Japão, então fui para Hakone, bairro onde se consegue ver o Monte Fuji. Os japoneses da AOTS, a entidade que estava me recebendo, me indicaram uma pousada típica do país, o Ryokan.

Ao chegar lá, descobri que ninguém falava inglês –e eu não falava japonês– e começou aquele esforço de comunicação. Apesar de não falarmos a mesma língua, foi o melhor final de semana que passei em um hotel. O atendimento, o carinho e o cuidado com os detalhes foram maravilhosos. Ao final da hospedagem, quando fui acertar a minha conta, o gerente se despediu de mim sem falar o obrigado clássico, o “arigatô”. Ele disse: “venerável Roberto, obrigado por me ajudar a alimentar os meus filhos”.

Qual é a diferença entre alguém que trabalha para ganhar um salário e alguém que trabalha com a consciência de que isso lhe dará o dinheiro para alimentar os filhos? Quando recebe o salário na empresa em que trabalha, você pensa: “estou trabalhando, tenho que ganhar mesmo”, ou você recebe, olha para o seu chefe e diz “obrigado por me ajudar a colocar comida na mesa de casa”? Se você é o empresário, quando seu colaborador lhe entrega um projeto, você responde “obrigado por me ajudar a realizar os seus sonhos” ou “estou pagando, você tem que fazer”? São atitudes totalmente diferentes.

Então, às vezes, recebo mensagens com a questão: “Como faço para me manter motivado quando trabalho em uma empresa que não gosto, com um chefe que detesto, com um trabalho que abomino?”. Primeiro, lembre-se de que você não está preso à empresa e que pode procurar outro emprego. Mas, enquanto estiver lá, ao chegar, pense: “aqui, hoje, vou ganhar o dinheiro para realizar os meus sonhos” ou “ganhar o dinheiro para pagar a escola dos meus filhos”.

Ao alcançar essa consciência, vai brotar de dentro de você uma energia que o transformará na pessoa mais feliz do mundo, porque estará realizando seu sonho por meio daquela empresa, junto com aquele chefe e com aquele trabalho. A consciência dos seus motivos é o que vai te transformar em uma pessoa especial. Você, é lógico, vai procurar melhores empregos e melhores oportunidades, mas sempre será um colaborador com sorriso nos olhos.

Cuide muito bem de você. Você merece.

 

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