José Escarlate
A censura não foi a única forma de repressão aos jornais, revistas e veículos de comunicação na época do regime militar. As pressões econômicas foram também responsáveis pelo fechamento de muitos jornais, como o Correio da Manhã, um formador de opinião. Isso era feito através do boicote dos anúncios do setor público.
A publicidade estatal era sonegada maciçamente aos jornais opositores. Além da pressão econômica, a pressão militar. O general Ant|ônio Bandeira certa noite foi à redação do O Estado de S. Paulo advertindo que não iria mais tolerar a divulgação de versinhos e receitas de doces e salgados.
Carlos Chagas, o nosso Chaguinhas, revelou que em muitos casos, pela sua total desorganização, a censura com suas proibições transformava-se em pauteira da redação. Era através das ordens emanadas “do alto”, que a reportagem ficava sabendo de fatos que estavam ocorrendo e que os boletins da censura apontavam como proibidos. Um deles, o que pouco ou nada se sabia, foi a tentativa de sequestro do ex-presidente Ernesto Geisel, quando ele comandava a Petrobras.
Geisel deixava a sede da estatal de carro e, na altura do aterro do Flamengo, um carro emparelhou com o dele, com subversivos dentro, portando armas pesadas. Graças à perícia de seu motorista, que deu um golpe de direção e seguiu pela contramão, escapando do sequestro e até, quem sabe, da morte. A nota da censura proibiu a divulgação da coisa, que as redações nem desconfiavam.